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“Feixe de Luz” explora relação entre cinema e escultura em mostra de 11 artistas na Oliva

22 Outubro 2022
“Feixe de Luz” explora relação entre cinema e escultura em mostra de 11 artistas na Oliva
Cultura
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O Centro de Arte Oliva inaugurou este sábado a mostra “Feixe de Luz”, que reúne nesse equipamento cultural de São João da Madeira trabalhos de 11 artistas portugueses e estrangeiros sobre a relação formal e conceptual entre cinema e escultura.
Patente ao público até 22 de janeiro, essa exposição no distrito de Aveiro exibe obras em filme, cinema expandido e esculturas produtoras de imagens, cabendo a autoria das peças a artistas como o romeno Constantin Brancusi, a dupla portuguesa Pedro Paiva e João Maria Gusmão, e a congénere suíça Fischli e Weiss.
Babette Mangolte, Francisco Tropa, Hollis Frampton, Lis Rhodes, Marc Leckey, Mary Ellen Bute, Nancy Holt e Susanne Themlitz são os outros criadores que, segundo Andreia Magalhães, diretora do Centro de Arte Oliva e também curadora da presente mostra, são “marcos da arte contemporânea” e poderão agora ser apreciados em São João da Madeira – “muitos deles em apresentação inédita em Portugal”, como acontece com os filmes que Brancusi gravou com a colaboração de Man Ray.
“A exposição propõe-se olhar para a escultura à luz do cinema e para as imagens em movimento em relação com o corpo e com o espaço. Embora parta de um propósito teórico e artístico alicerçado em investigação histórica e curatorial, é uma mostra muito sensorial e apelará seguramente aos sentidos de quem a visitar”, declarou a responsável.
Andreia Magalhães realçou ainda que “Feixe de Luz: Escultura Projetada, Cinema Exposto” integra “obras que nunca estiveram reunidas noutras exposições”, pelo que cria “novas relações” entre peças e artistas de diferentes nacionalidades, na linha temporal de um século.
Duas obras que são apresentadas na mostra e permitem um particular contraste cronológico são “Les Films de Brancusi”, registos fílmicos que o escultor realizou na década de 1920, e “Cinema”, uma instalação concebida por Francisco Tropa já em 2016.
Outra criação para apreciar na Oliva é “Light Music”, uma “instalação seminal” produzida em 1975 pela britânica Lis Rhodes, que Andreia Magalhães aponta como “uma artista pioneira do cinema experimental, mas praticamente desconhecida do público português”.
Com o vídeo “Sun Tunnels” (1978), por sua vez, o objetivo é revelar como a norte-americana Nancy Holt documentou a construção e instalação de túneis erigidos no deserto do Utah para registo do movimento da luz solar, do que resultou “um dos mais marcantes ‘earthworks’” da história da arte.
Para reunir em São João da Madeira esses e outros trabalhos, alguns dos quais “conheceram breves passagens pela Cinemateca Portuguesa ou pelo festival Curtas Vila do Conde”, mas nunca se apresentaram antes em contexto expositivo, o Centro de Arte Oliva contou com a colaboração de 10 museus e instituições especializados na preservação da imagem em movimento: Cabinet London e LUX (ambos do Reino Unido), Centro Georges Pompidou e Centro Nacional da Dança (ambos franceses), Center for Visual Music, Electronic Arts Intermix e Film Makers Coop (os três americanos), Frenetic Films (da Suíça), Museu Rainha Sofia (Espanha) e Museu de Arte Contemporânea de Serralves (Portugal).
Perante essa diversidade geográfica, uma das conclusões confirmadas por “Feixe de Luz” é que os artistas plásticos começaram a utilizar o filme quase desde a sua origem e “logo nas primeiras vanguardas olharam para o cinema como a maior promessa de uma revolução nas Belas Artes”.
Referindo que o filme representava “a possibilidade de ultrapassar a natureza estática da pintura e da escultura”, conferindo ainda à criação uma outra dimensão em termos de tempo, Andreia Magalhães diz que, “a partir das décadas de 1960 e 1970, a imagem projetada desempenhou um papel fundamental na reformulação da linguagem da representação, alterando radicalmente a natureza do objeto artístico e a sua relação com o espectador”.
Abordar toda a cronologia desse relacionamento seria, contudo, demasiado exaustivo, pelo que “Feixe de Luz” preferiu focar-se num percurso que “evidencia os elementos gramaticais que concorrem, muitas vezes insuspeitos, na dialética entre imagem e movimento, por um lado, e escultura, por outro”.
Exemplo disso é “o filme como documento que se converte em obra, o filme como possibilidade de encenação e performatividade da escultura, o filme como síntese de opostos como material/imaterial, sombra/luz, efémero/perpétuo, e também a escultura como dispositivo produtor de imagens”.