Última hora

Estudo médico da Frontiers in Medicine diz que novo coronavírus circulava na China em outubro

19 Maio 2020
Estudo médico da Frontiers in Medicine diz que novo coronavírus circulava na China em outubro
Cultura
0

O novo coronavírus já circulava silenciosamente em Wuhan, no centro da China, em outubro de 2019, e alastrou-se “aleatoriamente e sem mostrar sinais epidémicos”, de acordo com os resultados de um estudo publicado pela revista Frontiers in Medicine.
O estudo conclui que, embora o surto tenha sido oficialmente anunciado em dezembro de 2019, depois de dezenas de casos de infeção ligados a um mercado terem sido diagnosticados em Wuhan, análises da filogenética indicam que o coronavírus estava em dormência desde outubro naquela cidade na província chinesa de Hubei.
“Nesta fase de latência, a infeção seguiu o seu curso silencioso”, afirmou a equipa de investigadores, formada por Jordi Serra-Cobo e Marc López, da Faculdade de Biologia e do Instituto de Pesquisa em Biodiversidade da Universidade de Barcelona, Roger Frutos, do Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronómica para o Desenvolvimento, de França, e Christian A. Devaux, do Centro Nacional de Pesquisa Científica.
O estudo analisa a conjunção única de eventos que permitiram a expansão global do novo coronavírus, que tem um longo período de incubação, um alto número de casos assintomáticos e beneficiou da alta mobilidade internacional.
Segundo Serra-Cobo, para que uma doença infecciosa se espalhe, três condições devem ser atendidas: o patógeno deve ser capaz de infetar e reproduzir-se em seres humanos, entrar em contacto com pessoas através de um reservatório natural e espalhar-se através de um amplo circuito social.
No caso da Covid-19, todas essas condições foram reunidas em Wuhan, no final de 2019.
Segundo os autores, a pandemia é o resultado de um “alinhamento” excecional a nível global, ou seja, uma coincidência específica de fatores biológicos e sociais que lhe permitiram emergir e expandir-se por todo o mundo.
“O que desencadeou a epidemia foi o aparecimento, em simultâneo, de duas importantes celebrações no mesmo local – as férias em família e o Ano Novo Chinês – que colocaram muitas pessoas em contacto com outras pessoas, inicialmente infetadas, o que proporcionou a fase de amplificação necessária”.
Os autores consideram que “outro passo importante foi a mobilidade”.
O estudo lembra que “as mudanças ambientais e a ação do ser humano sobre os sistemas naturais afetam a perda de habitats e biodiversidade, afetam a dinâmica das espécies em reservatórios de patógenos e aumentam a probabilidade de contágio da espécie humana”.
“Este fenómeno é especialmente importante no sudeste da Ásia, onde se originaram as epidemias da SARS [Síndrome Respiratória Aguda Grave] e da Covid-19”, aponta.
A SARS teve origem na província de Guangdong, no sul da China, em 2002.
O estudo defende que é essencial proibir a posse e o uso de espécies protegidas e oferecer alternativas para evitar o impacto do mercado negro na vida selvagem.
“Mesmo que o surto se tenha originado inesperadamente em Wuhan, poderia ter sido evitado”, defendem os autores, que lembram que o início desta pandemia é comparável ao de surtos anteriores de coronavírus, como a SARS e Síndrome Respiratória do Oriente Médio, ou MERS.