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IPMA quer conhecer a atividade da “pequena pesca” para gerir melhor os recursos naturais

29 Março 2021
IPMA quer conhecer a atividade da “pequena pesca” para gerir melhor os recursos naturais
Tecnologia
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O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) já monitoriza em tempo real toda a frota portuguesa de apanha de bivalves, mas quer alargar o projeto a mais atividades pesqueiras, para gerir melhor os recursos naturais.
A intenção é conhecer a fundo a atividade da denominada “pequena pesca”, feita por embarcações com menos de 12 metros, que representam “80% da frota nacional” e da qual pouco se sabe, disse o coordenador do projeto Montereal (acrónimo para monitorização em tempo real), Miguel Gaspar, adiantando que se trata de “informação essencial para gerir não só a frota, mas também os recursos e todo o ecossistema”.
O projeto Montereal teve início há cerca de 10 anos e pretende colmatar a falta de informação sobre os locais onde operam as pequenas embarcações, sobre os seus principais pesqueiros e saber como se distribui em termos espaciais e temporais o esforço de pesca, com custo zero para os pescadores.
A bordo das embarcações foi colocado equipamento que reporta a sua localização a cada 30 segundos e transmite também informação que, “através de algoritmos desenvolvidos pelos investigadores”, permite criar padrões de caracterização da atividade em curso.
Se a informação sobre localização permite saber onde a embarcação está a pescar, “o padrão de velocidade da embarcação permite aferir qual a arte de pesca que está a ser usada, uma vez que algumas embarcações podem operar várias artes ao longo do ano”, disse Miguel Gaspar, adiantando que a informação transmitida permite igualmente saber se as embarcações estão a “calar” (lançar artes de pesca) ou a “alar” (recolher para bordo).
Agora, o projeto Montereal monitoriza 83 embarcações da frota da ganchorra – arte utilizada na captura de bivalves – entre Vila Real de Santo António e Matosinhos, que se tornou uma obrigatoriedade legal desde 2015, com as associações de pescadores a assumirem o pagamento das comunicações.
Miguel Gaspar disse que os equipamentos de monitorização foram colocados a bordo, inicialmente, apenas para “fins científicos”, mas “com o tempo os pescadores entenderam quão benéficos poderiam ser para proteger o bem de todos e querem agora que sejam usados para controlo, obrigando todos a respeitarem as regras”.
O investigador do IPMA avançou que “mais 200 aparelhos devem ser colocados em breve em outras artes de pesca pelo país e dentro de dois anos em mais 300 a 400 embarcações, o que vai permitir conhecer o padrão de atividade de várias artes de pesca, sem ter de cobrir todos os 3.000 barcos da pequena pesca”.
A informação recolhida diariamente da frota da ganchorra já permitiu elaborar mapas de “distribuição do esforço de pesca”.
“Conseguimos relacionar essa informação com as espécies que estão a pescar, ao cruzarmos com as descargas em lota e com isso identificar os bancos que [os pescadores] foram explorando ao longo do tempo”, explicou o biólogo.
Com quase uma década de dados recolhidos, Miguel Gaspar disse que os investigadores já sabem que, das quatro espécies com valor comercial, “o lingueirão é a que leva mais tempo a recuperar devido à fragilidade da concha”, tendo os bancos de pesca “sido esgotados em 1996“ e só agora “a recuperar para níveis que podem vir a ser explorados novamente”.
As outras espécies comerciais de bivalves – conquilha, amêijoa branca e amêijoa pé-de-burrinho – “recuperam facilmente de um ano para o outro, já que efetuam desovas muito grandes”, podendo, no entanto, haver “flutuações naturais” em alguns anos.
Miguel Gaspar destacou que o projeto permite ainda tirar ilações sobre “zonas onde houve pesca e depois deixou de haver, significando que o banco [pesqueiro] deixou de ter uma abundância que justifique a atividade. Se no ano seguinte os pescadores voltarem significa que ao fim de um ano o banco recuperou”, realçou o biólogo.
As campanhas de pesca anuais de monitorização dos bancos de bivalves realizadas pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) permitem “validar os dados” e saber “o que há, onde há e relacionar com o esforço de pesca”, conhecimento que o projeto Montereal pretende agora alargar a outros tipos de pesca, concluiu Miguel Gaspar.