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Relatório acusa empresas que usam plástico descartável de sabotar leis e iludir consumidores

18 Setembro 2020
Relatório acusa empresas que usam plástico descartável de sabotar leis e iludir consumidores
Economia
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As empresas que mais usam plástico descartável no mundo têm “sabotado” as leis destinadas a reduzir as embalagens e a poluição, recorrendo a falsos programas e iniciativas voluntárias para distrair consumidores e governos, denuncia um relatório internacional.
Uma investigação realizada em 15 países pela fundação holandesa Changing Markets e a coligação Break Free From Plastic, divulgada em Portugal pelas organizações ambientalistas Zero e Sciaena, demonstrou as discrepâncias entre o discurso e os compromissos públicos de grandes supermercados e marcas do setor alimentar e de bebidas. Os autores da investigação denunciam “manobras de bastidores” para boicotar a legislação que vise fazer frente ao problema das embalagens descartáveis.
“A poluição gerada pelos plásticos descartáveis, que afeta gravemente a nossa saúde e o nosso ambiente, tem solução, mas é a indústria que produz, embala e distribui esses recipientes que está a fazer tudo o que pode nos bastidores para que nada seja feito para reduzir essa ameaça”, referem as organizações num comunicado que acompanha o relatório.
De acordo com o documento, não só falharam iniciativas voluntárias para combater o desperdício de plástico, como têm sido usadas “como tática para atrasar e obstruir legislação progressista”, enquanto se procura “distrair os consumidores e governos” com “promessas vazias e falsas soluções”.
Sob o título “Talking Trash – Manual sobre falsas soluções das empresas para a crise do plástico”, o relatório aponta como os 10 maiores poluidores de plástico do mundo a Coca-Cola, a Colgate-Palmolive, a Danone, a Mars Incorporated, a Mondelēz International, a Nestlé, a PepsiCo, a Perfetti Van Melle, a Procter & Gamble e a Unilever, com “uma pegada plástica conjunta de quase 10 milhões de toneladas por ano”.
“Assumem compromissos públicos de reciclagem com objetivos quantificáveis, os quais não cumprem e reformulam ou então focam o discurso em soluções falsas ou soluções não comprovadas que também envolvem outros problemas ambientais (alternativas supostamente biodegradáveis ou compostáveis, reciclagem química)”, frisam os autores do estudo.
Como exemplo, citam a Coca-Cola, referindo que “está comprometida, de alguma forma, com dez iniciativas voluntárias para resolver o problema dos resíduos de plástico, enquanto faz parte de, pelo menos, sete associações comerciais que têm feito lóbi contra a adoção de sistemas de depósito ou outra legislação para regulamentar o uso de plástico descartável”.
Segundo o relatório, nos 40 países e regiões do mundo onde as embalagens de bebidas podem ser devolvidas à loja (através de sistemas de depósito com retorno, como o que irá ser lançado em Portugal a partir de janeiro de 2022), 90% de todas as embalagens de bebidas são reaproveitadas e / ou convertidas em novas embalagens, em vez de serem abandonadas, colocadas em aterro ou incineradas.
Estados Unidos, Escócia, Áustria, Espanha, República Checa, França, China, Japão, Uruguai, Bolívia e Quénia são alguns dos países citados no relatório.