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Para Sempre

29 Novembro 2017
Para Sempre
Cultura
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Num registo autobiográfico, Vergílio Ferreira leva a cabo uma reflexão lancinante acerca da morte que o aguarda, tendo para isso regressado à sua aldeia natal, com vista para a grande montanha.
Em “Para Sempre”, “no final de uma vida, entrando no seu epílogo, um homem já sem destino para cumprir medita sobre o seu passado e o seu futuro, no regresso a uma casa vazia onde passou parte da sua infância, povoada de fantasmas que evocam os momentos-chave da sua existência. Recheado de flashbacks para o passado e para o futuro (!), a antevisão, real e com todos os detalhes, da degradação da sua velhice e do seu funeral urge em Paulo a derradeira tentativa de procura da explicação de um sentido para a vida». «Contínua e cada vez mais solitária viagem em volta do único ponto do seu universo: o da sua infância como monólogo inacabado e inacabável em torno do milagre ardente e pavoroso da sua própria aparição no meio do mundo – montanha, estrelas, água, vento que é uma resposta antes de ser desesperada e inútil interrogação”, analisou Eduardo Lourenço.
Vergílio Ferreira é talvez o escritor contemporâneo que melhor utilizava a língua portuguesa de forma a transmitir todo o sentimento ao leitor.
Romancista e ensaísta português, natural de Melo, em Gouveia, Vergílio Ferreira nasceu em 1916 e morreu em 1996. Estudou no Seminário do Fundão, licenciou-se em Filologia Clássica na Universidade de Coimbra e exerceu funções docentes no Ensino Secundário. Notabilizou-se no domínio da prosa ficcional, sendo um dos maiores romancistas portugueses deste século.
Literariamente, começou por ser neo-realista, nos anos 40, com “Vagão Jota”, de 1946, ou “Mudança”, de 1949. Mas a partir da publicação de “Manhã Submersa”, de 1954 e, sobretudo, de “Aparição”, em 1959, Vergílio Ferreira adere a preocupações de natureza metafísica e existencialista. A sua prosa, que entronca na tradição queirosiana, é uma das mais inovadoras dos ficcionistas deste século.
O ensaio é outra das grandes vertentes da sua obra que, aliás, acaba por influenciar a sua criação romanesca. Temas como a morte, o mistério, o amor, o sentido do universo, o vazio de valores, a arte, são recorrentes na sua produção literária. Além disto, Vergílio Ferreira deixou-nos vários volumes do diário intitulado “Conta-Corrente”. Das suas últimas obras destacam-se: “Espaço do Invisível”, “Do Mundo Original”, “Para Sempre”, “Até ao Fim” e “Na tua Face”. Vergílio Ferreira recebeu o Prémio Camões em 1992.