Última hora

Freguesias da Póvoa de Varzim e Barcelos protestam contra aterro oferecendo presépios

8 Dezembro 2023
Freguesias da Póvoa de Varzim e Barcelos protestam contra aterro oferecendo presépios
Local
0

Seis juntas de freguesias dos concelhos da Póvoa de Varzim e de Barcelos, cujas populações estão a ser afetadas pelo mau cheiro de um aterro sanitário, decidiram inovar nos seus protestos, oferecendo trinta peculiares presépios a diferentes entidades.
Para tal, encomendaram a uma artista plástica barcelense três dezenas de peças, todas diferentes, onde o figurado que retrata a Sagrada Família surge com as mãos no nariz, replicando o incómodo das populações com o mau cheiro emanado pelo equipamento há quase dois anos.
As peças serão entregues a entidades como o Presidente da República, Primeiro-Ministro e outros governantes, autarcas locais, dirigentes de departamentos governamentais e até a responsáveis da União Europeia.
“O nosso objetivo é que os representantes destas 30 entidades a quem vamos oferecer estas obras percebam o que estamos a sentir e que, nesta quadra natalícia, tal lhes toque no coração e resolvam o problema, Não conseguimos viver assim”, disse Félix Marques, Presidente da Junta da Freguesia de Laúndos, na Póvoa de Varzim.
Juntaram-se também à iniciativa as juntas de Rates, Estela e Aguçadora/Navais, do concelho da Póvoa de Varzim, no distrito do Porto, assim com as autarquias congéneres de Cristelo e Barqueiros, ambas de Barcelos, no distrito do Braga.
Em causa está um aterro sanitário instalado na freguesia barcelense de Paradela, que é operado pela empresa intermunicipal Resulima, e que, de acordo com a população das localidades envolventes, emana um “cheiro nauseabundo” desde que entrou em funcionamento em 2022.
“A extensão das zonas de incomodidades de odores chega a atingir uma área de 74 km quadrados, afetando milhares pessoas em zonas residências e industriais, escolas, jardins-de-infância, lares, centros de dia, parques desportivos, praias, zonas de lazer, zonas históricas e unidades hoteleiras. Impacta negativamente a qualidade de vida das nossas populações”, vincaram os representantes das seis freguesias, numa intervenção conjunta.
Os autarcas lembram que, desde então, têm apelado a várias entidades nacionais e internacionais a resolução do problema, mas que ainda não obtiveram uma resposta efetiva no terreno.
“O ‘fedor’ continuou, agravando-se mês após mês, batendo-se novos recordes de intensidade de odores. Desde março até hoje registamos mais de 160 ocorrências em 278 dias, numa média anual de dia sim, dia não com este cheiro nauseabundo presente. Como é que é possível em pleno século XXI acontecer uma situação destas ao longo de dois anos”, questionaram.
Os autarcas destas seis juntas de freguesias acrescentaram que “ocorrem frequentemente descargas diretas de resíduos urbanos no aterro, que não passam pela central de tratamento”, mostrando-se também preocupados com a “contaminação dos solos e das linhas de água”.
“O regulador nacional e secretaria de Estado do Ambiente e da Ação Climática apenas aprovaram a construção de uma barreira de árvores do lado sul do aterro e os respetivos estudos para uma avaliação ‘a posteriori’. Devem achar que a construção de uma barreira cénica, sem se fazer alterações nos edifícios, será suficiente para resolver o problema”, revelaram, indignados.
Félix Marques, autarca da freguesia de Laúndos, considerou que este “é um problema que pode ser resolvido politicamente”, e deixou um apelo para os candidatos dos diferentes partidos que vão a votos na próxima Eleições Legislativas.
“Têm de olhar para qualidade de vidas de milhares de pessoas das nossas populações que também os elegem. Estaremos atentos aos programas políticos e seremos punitivos. Este movimento das seis freguesias não tem que ver com as cores políticas, mas sim com as pessoas”, disse.
Questionado se um boicote às eleições é algo que está a ser ponderado, Félix Marques disse que “pode ser uma hipótese”, mas que para já “esse não é o caminho” que querem seguir.
“As populações querem fazer manifestações nas ruas, e estamos a segurar esses ânimos. Somos pessoas de bem, queremos resolver e apelar à calma, mas está a chegar a uma situação limite. Sabemos que o aterro tem de existir, mas pode trabalhar sem ser um problema, porque há outros equipamentos semelhantes que funcionam bem”, completou Félix Marques.
Já Abel Sá, da Junta de Freguesia de Cristelo, em Barcelos, acrescentou que, na sua localidade, “além de sofrer com o mau cheiro, passam, por dia, 300 camiões carregados com resíduos que danificam as estradas”.