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Maternidade ‘virou’ vida de Sónia Gonçalves mas deu-lhe “força extra” no Badminton

28 Novembro 2022
Maternidade ‘virou’ vida de Sónia Gonçalves mas deu-lhe “força extra” no Badminton
Desporto
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A campeã nacional de Badminton Sónia Gonçalves teve uma gravidez inesperada a caminho de Tóquio2020, que falhou por poucos lugares, mas deu-lhe “força extra” para voltar à modalidade, em que sonha com voltar aos grandes palcos internacionais.
A jogadora de 28 anos, que no domingo recuperou o título de singulares e venceu em pares femininos ao lado da irmã, Adriana Gonçalves, que a tinha batido na final de 2021, lembra como ser mãe de Duarte, em agosto de 2020, lhe ‘virou’ a vida.
“Precisei de parar após o apuramento olímpico, um bocadinho de tempo, de espaço. Fiquei a três lugares oficiais de apuramento. Isso foi um sentimento muito agridoce. Após uma pandemia, e após uma gravidez inesperada, consegui muito mais do que contava”, analisa.
Este ano de 2022 foi para voltar a focar-se e voltar a “crescer e desenvolver” o seu jogo, sem esquecer o novo lado, como mãe. “Para eu estar bem, precisava de jogar Badminton, e ele também precisa de estar bem”, diz.
“Tenho a certeza absoluta que se não tivesse voltado a jogar tão rapidamente, tinha entrado num processo muito negativo. Consegui dar a volta por cima, as mães têm uma aldeia de apoio. Quer no clube quer em estágios da federação”, lembra a atleta de Vila Nova de Famalicão.
Depois de descobrir que estava grávida com 37 semanas de gestação, a maternidade trouxe-lhe menos horas de descanso mas outra força, outra forma de fazer com que as ausências, para estágios e provas, “tenham de valer a pena”.
“Durante um ano, trouxe o Duarte para as competições, para estágios, e acho que um dia ele vai ver e vai ficar orgulhoso. Não digo que é um superpoder, mas é uma força extra”, atira.
Não estando “preparada para ser mãe”, com projetos a nível profissional e uma licenciatura em Desporto, na Universidade da Maia, que ainda quer acabar, fora a carreira.
Apoiada pela federação no que à maternidade diz respeito, ao poder trazer com ela o filho para estágios, por exemplo, não deixa de se sentir “um bocadinho triste” por perder a Bolsa de Solidariedade Olímpica do Comité Olímpico Internacional (COI), agora com Madalena Fortunato.
Ainda assim, “nada está posto de parte”, e com o filho já mais crescido, mostra-se ávida de regressar à competição internacional, de forma consistente, e a perseguir “o sonho” de chegar aos Jogos Olímpicos, agora em Paris2024, revigorada com o regresso ao estatuto de campeã nacional.
Faltam “apoios”, continua “à procura de patrocínios, de ajuda”, até porque garante que 2023 “vai ser um ano de viragem” que a pode levar até aos Jogos, quando é 354.ª no ranking mundial, o melhor registo entre as atletas lusas.
Depois de falhar por pouco Tóquio2020, ser mãe sem contar, atravessar uma pandemia, conjugar trabalho, estudos e a modalidade, ir a Paris2024 “era a cereja no topo do bolo”, ainda por cima pela sua “simbologia muito grande com 24” – faz anos nesse dia, como a irmã e o pai, e foi num dia 24 que descobriu que estava grávida.
“O Duarte aí vai ter quatro anos. Não quer dizer que se não conseguir a carreira termine. (…) Mas todas as dificuldades e obstáculos que se foram colocando [para Tóquio2020], que fazem parte, penso ‘ok, era porque tinha de ser’”, reflete.
Vê Bernardo Atilano “numa ótima forma”, nos masculinos, e gostava “de lhe fazer companhia”, depois de se acompanharem há anos, e de ele próprio ter ficado a poucos lugares do apuramento olímpico.
Outro objetivo para 2023 é repetir a presença nos Jogos Europeus, depois de Baku2015 e Minsk2019, depois de falhar os Jogos do Mediterrâneo Oran2022, para poder “voltar a sentir a sensação de estar no meio dos melhores” de várias modalidades.
A pandemia de Covid-19 também a levou a implementar um projeto de parabadminton em Vila Nova de Famalicão, em que trabalha como professora da modalidade com pessoas com deficiência, e trabalha num projeto para dar corpo à pretensão de “criar um Centro de Alto Rendimento de desporto adaptado no Norte”.
Essa ligação ao Norte, e à sua cidade, Vila Nova de Famalicão, de que seria “a primeira mulher olímpica”, está sempre presente no discurso, até pela distância ao Centro de Alto Rendimento das Caldas da Rainha e a escassez de provas e outros encontros em terras nortenhas.
“Temos muito bons atletas, e alguns acabam por se mudar lá para baixo por essas facilidades”, lamenta.
Foi em Vila Nova de Famalicão, no bairro de São Vicente, que descobriu o desporto, e a certo ponto, como “tudo o que havia de desporto escolar” decidia experimentar, acumulava treinos de futsal e de badminton.
Um dia, os dois treinadores percebiam que passava a semana entre uma coisa e outra, e o sucesso no badminton, com títulos nacionais na formação, levou-a a jogar ao lado das olímpicas Telma Santos e Ana Moura, ao surgir na modalidade.
Ficou sempre “aquela vontade” de “mais do que provar aos outros, orgulhar o próprio”, a solo e, mais tarde, ao lado da irmã, Adriana, com quem revalidou também o título de pares, solidificado numa “ótima relação” entre as duas, e que ‘resiste’ aos frequentes embates nos quadros de singulares.
“Já conseguimos campeonatos da Europa e do Mundo. Isso foi criando aqui uma relação espetacular. Ela não devia ouvir isto, mas é mesmo isso”, brinca a atleta de Famalicão.