A consultora CBRE antecipa um volume de investimento superior a 3.000 milhões de euros no setor imobiliário este ano, admitindo que pode mesmo atingir um valor próximo do recorde de 3.750 milhões de euros de 2019.
Durante o evento ‘2022 Portugal Market Outlook’, durante o qual apresentou as principais tendências do setor imobiliário para este ano nas áreas de investimento, escritórios, retalho, logística, hotelaria, ativos alternativos e habitação, a CBRE justificou estas perspetivas com o “interesse generalizado em todas as classes de ativos” e “tendo em consideração as operações em curso e as que se prevêem que sejam levadas a mercado”.
“Iniciámos o ano de 2022 com otimismo e confiança. A segunda metade do ano anterior refletiu uma franca recuperação em todos os segmentos do imobiliário e, inclusive, máximos históricos em alguns indicadores, pelo que 2022 pode significar a aproximação, ou mesmo o regresso, aos níveis pré-pandemia na generalidade das classes de ativos”, afirmou o diretor-geral da CBRE Portugal.
Segundo Francisco Horta e Costa, “o contexto de elevada liquidez para investir no mercado imobiliário, aliado a uma procura sólida e ao aumento das rendas e dos preços de venda, assim como a um ‘pipeline’ interessante de novos projetos, permite encarar o ano com uma perspetiva otimista e de crescimento”.
No que se refere ao investimento, a CBRE prevê que o setor possa superar novamente os 3.000 milhões de euros em 2022, tal como sucedeu em 2018, 2019 e 2020, “não sendo expectável que a inflação tenha um impacto significativo, dada a elevada liquidez já levantada pelos fundos para investir em imobiliário”.
“À semelhança do ano anterior, o segmento de escritórios deverá atrair o maior montante de capital e registar um crescimento de cerca de 30% em 2022. Os hotéis irão igualmente verificar um elevado investimento alavancado pela transação do portefólio da ECS, atualmente em negociação, e pela confiança na recuperação do turismo”, considera, acrescentando: “ao contrário do que se previa no início da pandemia, as vendas forçadas de hotéis deverão ser pontuais”.
A consultora destaca, a este nível, o setor da logística, onde “a rotação de portefólios e a venda de novas plataformas irá refletir-se num valor recorde de investimento”.
Por outro lado, e “apesar de se esperar um interesse reduzido em centros comerciais, deverá haver uma procura maior para supermercados e ‘retail parks’, com contratos de arrendamento por períodos longos”.
No segmento de escritórios, a CBRE considera que 2022 “será de experimentação e consolidação de soluções de trabalho híbridas” e admite que “os longos processos de licenciamento podem levar a um aumento das rendas ‘prime’ entre 5 e 10%, devido à escassez de produto no mercado”.
Já no retalho, aponta o surgimento de novos projetos de ‘retail parks’ e de retalho alimentar, segmentos que “ganharam protagonismo com a pandemia”, prevendo que “deverá verificar-se novamente um aumento nas vendas de comércio a retalho, ligeiramente acima do registado em 2021”.
No setor logístico, a consultora diz que “a disponibilidade de espaços para ocupação imediata vai continuar muito reduzida e pressionar subida das rendas na ordem dos 5%”, mas nota que “o ‘pipeline’ é o mais elevado de sempre”.
Quanto ao turismo, “vai continuar a recuperar, refletindo-se numa melhoria do desempenho dos hotéis, mas 2022 deverá ficar ainda aquém de 2019”, avança.
“Apesar de a pandemia ter cancelado o desenvolvimento de alguns projetos de hotéis e interrompido estratégias de investimento, continua a existir muito interesse no mercado hoteleiro, tanto da parte de operadores como de investidores. Os segmentos de luxo e ‘lifestyle’ vão continuar a crescer. Contudo, pode vir a registar-se um recorde no volume de investimento e a compressão de ‘yields prime’”, refere.
Além da pandemia, a CBRE considera que existem ainda “riscos relevantes com impacto na operação e no lucro dos hotéis, tais como a escassez de mão de obra e o aumento dos custos de energia e bens alimentares”.
No que se refere a ativos alternativos, como as residências de estudantes, residências seniores, ‘data centres’, hospitais, clínicas médicas ou escolas, a consultora afirma que “apresentam atualmente fundamentos de mercado extremamente sólidos”, pelo que “estão na mira dos investidores”.
Finalmente, no segmento da habitação, “mantém-se o ritmo de crescimento dos preços de venda e o número de casas vendidas deverá aumentar 10%, aproximando-se dos níveis do início do século”.
“O mercado residencial atingiu um recorde em 2021, estimando-se à data que tenham sido vendidas aproximadamente 200 mil casas, mais 16% que no ano anterior e 10% acima de 2019”, refere a CBRE, antecipando que “o número de casas vendidas vai continuar a aumentar em 2022, pois não só se verificou um aumento nos licenciamentos em 2021 (com um acréscimo superior a 10% face a 2020), como ainda há uma elevada procura não satisfeita em todos o país”.
A previsão é que se mantenha a tendência de expansão de projetos de promoção residencial para zonas “menos consolidadas”, como a Alta de Lisboa e Marvila, em Lisboa, ou Campanhã, no Porto, e para outros concelhos das áreas metropolitanas, como Almada, Loures, Vila Nova de Gaia, Maia, entre outros.
“A escassez de mão de obra, o aumento dos custos dos materiais de construção e as ruturas na cadeia de abastecimento, a par da persistente demora nos processos de licenciamento urbanísticos vão atrasar ainda mais as obras e sustentar a continuação da subida dos preços de venda de habitação em Portugal”, conclui a consultora no ‘2022 Portugal Market Outlook’.