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Dupla estreia do realizador português Diogo Salgado neste Festival de Cinema de Cannes

5 Julho 2021
Dupla estreia do realizador português Diogo Salgado neste Festival de Cinema de Cannes
Cultura
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O realizador português Diogo Salgado prepara-se para uma dupla estreia em julho no Festival de Cinema de Cannes, onde vai estar pela primeira vez e vai mostrar a curta-metragem ‘Noite Turva’, candidata à Palma de Ouro.
‘Noite Turva’, que integra a competição oficial, é o resultado de um longo projeto cinematográfico de Diogo Salgado, iniciado há três anos, ao sabor das dificuldades de financiamento e da disponibilidade emocional para o concluir, como contou.
Esta curta-metragem é o primeiro filme do realizador conimbricense de 26 anos e foi iniciado depois de ter estudado na Escola Superior de Teatro e Cinema, onde se formou em direção de fotografia.
A curta-metragem é uma narrativa sobre dois rapazes que brincam numa floresta, sendo que um deles desaparece junto a uma lagoa, já de noite.
“Eu retrato um episódio que poderia ter acontecido na minha infância, mas não está desconectado das minhas preocupações atuais, por isso é que me fez abordar desta forma. É um filme com crianças, mas não é infantil na sua forma e na sua perspetiva sobre o acontecimento”, explicou Diogo Salgado.
O filme é sobretudo visual, marcado por planos escuros, pelos sons da vida na floresta, sobretudo à noite, e não tem diálogos nem qualquer narração.
“Narrativamente, o cinema tem essa ferramenta muito poderosa, da imagem e do som comunicarem, abstendo-se da palavra e isso é o que mais me seduz no cinema, daí o filme ter as características que tem”, defendeu.
Sobre esta ficção, Diogo Salgado afirma que tem subjacentes questões que o acompanham desde a infância: “do que é lidar com o desaparecimento de alguém, com o fim de uma relação com a alguém, com a morte, com o final das coisas”.
Entre “o processo bastante solitário de iniciação” do projeto e a montagem, em 2020, o realizador recordou algumas dificuldades em conseguir apoios e nem sempre teve “a disponibilidade emocional para avançar com o projeto”.
“Trabalhei numa galeria de arte, servi à mesa, fui rececionista de hotel, tudo isto enquanto preparava o filme. Foi uma grande mixórdia de atividades ao longo destes anos. Não conseguia sobreviver daquilo que o cinema me poderia oferecer”, contou.
‘Noite Turva’ teve estreia nacional em 2020 no Festival Curtas de Vila do Conde, onde foi premiado, e faz agora a estreia internacional em Cannes, o que Diogo Salgado considera muito bom e surpreendente, tendo em conta que sentiu “falta de confiança” para concluir o projeto.
“É sempre bom mostrar o filme e fazer com que chegue as outras pessoas. O melhor que Cannes oferece é esta janela de projeção enorme do nosso trabalho e isso é recompensador”, considerou.
Atualmente a fazer um mestrado em cinema, Diogo Salgado admite “alguma urgência em concretizar certas ideias”, mas vai esperar pelo retorno da circulação de ‘Noite Turva’ em Cannes e, possivelmente, noutros festivais.
O 74.º Festival de Cinema de Cannes vai decorrer de 6 a 17 de julho, dia em que vão ser anunciados os vencedores das competições.
Ainda no capítulo das curtas-metragens, nos programas em Cannes dedicados a projetos cinematográficos ainda em curso, em desenvolvimento e pós-produção, vão ser mostrados a profissionais os filmes ‘Entre a Luz e o Nada’, de Joana de Sousa, com produção de Pedro Fernandes Duarte, e ‘O Fim do Verão’, de Marco Veloso, com produção da Escola Superior de Teatro e Cinema.
Na Quinzena de Realizadores, um dos programas paralelos do festival, vai estrear-se ‘Diários de Otsoga’, de Miguel Gomes e Maureen Fazendeiro.
Quem também vai estar em Cannes é o realizador David Pinheiro Vicente, com o projeto da primeira longa-metragem, intitulado ‘Entre o Passado e o Futuro’, que foi desenvolvido no âmbito do programa Cinéfondation e que vai contar com coprodução luso-francesa da O Som e a Fúria e La Belle Affaire.