Última hora

Universitário da Póvoa de Varzim com “vidinha tranquila” na República dos Kágados em Coimbra

1 Abril 2020
Universitário da Póvoa de Varzim com “vidinha tranquila” na República dos Kágados em Coimbra
Local
0

As repúblicas de Coimbra enfrentam a Covid-19 como mais um teste à sua capacidade de sobrevivência, com algumas destas comunidades estudantis a cerrarem fileiras na partilha e na reinvenção em tempo de pandemia.
A curta distância da Sé Velha, a mais antiga república da cidade, os Kágados, tem as portas fechadas.
Os seus membros decidiram ficar na casa, depois de a Universidade de Coimbra (UC) ter suspendido as aulas presenciais, há três semanas.
Pedro Pinheiro afirma que seis dos oito atuais residentes estão nas instalações, onde prosseguem, confinados, as atividades académicas. Apesar das restrições, preparam as refeições e confraternizam.
“Ajudamo-nos uns aos outros e temos ainda mais vontade de estarmos reunidos”, sublinha.
Segundo o estudante de Filosofia, quando o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, decretou o Estado de Emergência, dois “repúblicos” estavam de visita às famílias “e já não puderam voltar” a Coimbra.
Dos seis “resistentes”, metade são jovens italianos, dois oriundos de Roma e um de Turim, que frequentam a Universidade de Coimbra ao abrigo do programa europeu Erasmus.
“Esta situação obrigou-nos a reconhecer – re-conhecer com hífen – o que está dentro da casa”, refere Pedro Pinheiro, para destacar o trabalho que têm vindo a realizar em torno dos espólios da República dos Kágados, como a arrumação da biblioteca e a organização do arquivo de fotos dos antigos “kagadais”.
O universitário da Póvoa de Varzim testemunha “uma vidinha tranquila” na comunidade, fundada em 1933, e admite que o grupo “não estava preparado” para passar 24 horas em clausura, com raras saídas para ir ao supermercado.
Mantendo uma prática que já vigorava, os Serviços Sociais da Universidade de Coimbra (SASUC) entregam às repúblicas os mantimentos que cada uma requisita e paga, um sistema que abrange os Kágados e a Boa-Bay-Ela, entre outras.
Autora de três obras nesta área, Teresa Carreiro realça que as repúblicas, não sendo “só uma forma de alojamento específico”, intervieram sempre na academia e na cidade de Coimbra, procurando cada uma preservar o seu espaço físico e a vivência comunitária.
Nos últimos anos, estas casas têm reclamado a proteção dos poderes públicos, face à aplicação da Lei das Rendas, que tem ditado o desaparecimento de algumas repúblicas.