Trinta e três das 45 corporações de Bombeiros do distrito do Porto entregaram na passada sexta feira “simbolicamente” as chaves das ambulâncias ao Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) de forma a alertar para as dificuldades logísticas e financeiras do setor.
“A situação é insustentável e coloca em causa a emergência médica. A Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) não tem apoiado com a quantidade suficiente nos equipamentos de proteção individual (EPIs). Estamos ao serviço do Estado e não estamos protegidos, nem conseguimos proteger as populações”, disse o comandante dos Bombeiros Voluntários (BV) de Paredes.
José Morais falava aos jornalistas à porta da delegação do INEM do Porto e junto a outros comandantes e presidentes de associações humanitárias do distrito antes de a comitiva ter sido recebida pelo diretor regional do INEM.
Já num comunicado distribuído à imprensa lê-se que “as associações signatárias manterão as ambulâncias INEM inoperativas por falta de EPIs, cuja responsabilidade de apoio e entrega é do Estado através do INEM e da ANEPC”.
No entanto, a comitiva frisou que “o socorro às populações nunca estará em causa” e que a entrega simbólica das chaves das ambulâncias Posto de Emergência Médica (PEM) “serve para chamar a atenção para as enormes dificuldades das corporações de voluntários sobretudo num momento em que o quadro epidemiológico [pandemia da Covid-19] se tem agravado”.
Ao lado, o comandante dos Bombeiros Voluntários (BV) de Ermesinde, concelho de Valongo, contava aos jornalistas que a sua corporação tem feito 25 a 30 serviços de emergência em média por dia, sendo “todos tratados como suspeitos Covid-19 positivos”, o que significa “equipar da cabeça aos pés pelo menos dois tripulantes de ambulâncias”.
“Gastamos mais de 100 máscaras por dia e o tempo de serviço duplicou quer porque a entrega de doentes nos hospitais é mais demorada, compreensivelmente, quer porque temos de fazer a descontaminação dos carros a cada transporte”, referiu o comandante de Ermesinde.
Já o presidente dos BV da Trofa, Luís Elias contou que a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) entregou recentemente EPIs que “duraram uma semana e chegaram incompletos”.
Máscaras, fatos completos, tapa botas, luvas, óculos e toucas são os itens que o INEM exige por lei que os Bombeiros Voluntários usem, mas segundo o dirigente da Trofa “grande parte não faz parte dos kits que estão a ser distribuídos”.
Estas 33 corporações alertam que o acordo de colaboração celebrado em 2012 entre Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) e Liga de Bombeiros Portugueses (LBP) “não cobre atualmente os custos reais dos consumíveis que o próprio instituto exige”.
“Refira-se a este propósito que o INEM comparticipa com o valor de dois euros a aquisição de consumíveis quando os custos atuais inerentes à pandemia e proteção dos bombeiros ultrapassam largamente esse valor”, lê-se num comunicado entregue à imprensa.
Quanto às entregas de equipamentos de proteção individual (EPIs) feitas pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), os bombeiros voluntários do Porto apontam que “as entregas efetuadas não cobrem 25% das necessidades”.
O Ministério da Administração Interna, que tutela a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), ainda não se pronunciou sobre o assunto.