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Agustina Bessa-Luís e Colonialismo são os temas da 18.ª Queima de Judas em Vila do Conde

8 Abril 2023
Agustina Bessa-Luís e Colonialismo são os temas da 18.ª Queima de Judas em Vila do Conde
Cultura
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A 18.ª edição da Queima de Judas, espetáculo que decorre no sábado em Vila do Conde, inspira-se no centenário do nascimento da escritora Agustina Bessa-Luís e no Colonialismo.
Descrito como um espetáculo de rua multidisciplinar que “funde teatro de rua, circo contemporâneo, dança, música, vídeo, fotografia e literatura, entre outras artes, interligando assim a tradição popular e a arte contemporânea”, procura, com esta abordagem “reforçar a importância da identidade cultural coletiva e as memórias da comunidade”, refere a entidade organizadora em comunicado.
Sobre a escolha para temas do Colonialismo e Agustina Bessa-Luís, a organização enfatiza que durante o período colonial, “Portugal impôs a sua cultura, língua e religião aos povos africanos, além de explorar recursos naturais e impor trabalho forçado”, pode ler-se na comunicação.
“Esse processo de colonização resultou numa série de traumas, incluindo a perda de identidade cultural, de violência e de exploração”, diz a entidade organizadora em comunicado.
Esse trajeto, assinala o comunicado, faz parte de algumas das obras de Agustina Bessa-Luís, que “retrata as consequências do Colonialismo e as desigualdades sociais que resultam da exploração e da opressão”.
“Ela mostra como as relações sociais são afetadas pela hierarquia e pelo poder e como as pessoas são impedidas de alcançar a liberdade e a felicidade. Além disso, a autora também questiona a justificação moral e cultural que muitas vezes é usada para fundamentar o Colonialismo”, prossegue a comunicação sobre a homenageada em 2023.
Recorrendo aos números, assinala a organização que, entre 1961 e 1974, cerca de 90% dos homens portugueses foram mobilizados para a Guerra do Ultramar, que causou cerca de 10 mil mortes e 20 mil inválidos entre os soldados.
O projecto da Queima do Judas de Vila do Conde “propõe-se reunir um vasto conjunto de entidades e pessoas ao nível local, regional e nacional para a realização de um evento multicultural que recupera esta tradição. É um evento artístico multidisciplinar que tem vindo a ganhar crescente expressão nos últimos anos e que envolve, na sua produção e criação, centenas de pessoas do movimento artístico e associativo da cidade de Vila do Conde. Nesse momento único de celebração do sagrado e do profano, de humor, ironia e sátira, confluem áreas artísticas tão diversas como o teatro, o circo, a dança, as artes plásticas, a música, a imagem vídeo e a fotografia”, pode ler-se no site da Associação Cultural Nuvem Voadora, entidade organizadora da Queima do Judas de Vila do Conde.
“A Queima do Judas é um acontecimento anual, que se realiza no chamado Sábado de Aleluia, anterior ao Domingo de Páscoa. Trata-se de uma tradição popular, baseada numa provável punição para a traição de Judas Iscariotes a Jesus de Nazaré, em troca de 30 moedas de ouro. A coincidência temporal desta celebração com a chegada da Primavera levou a uma sobreposição de datas que ao longo dos tempos se traduziu na imolação de personagens odiosas, que em linguagem pagã significava o mesmo que terminar com o Inverno, o período negro, escuro, associado aos “males” da sociedade, frio e pobre.”