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Pescadores indonésios de Caxinas são motivo de exposição fotográfica de Eduardo Martins

9 Fevereiro 2023
Pescadores indonésios de Caxinas são motivo de exposição fotográfica de Eduardo Martins
Cultura
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O fotojornalista Eduardo Martins vai, este sábado, inaugurar uma exposição fotográfica que retrata o quotidiano laboral e pessoal da comunidade indonésia que trabalha no setor das pescas no lugar Caxinas, em Vila do Conde.
A mostra, intitulada “Nelayan: Vontade em Trânsito”, que estará patente no Mira Fórum, no Porto, é o produto de um trabalho de ano e meio, em que o autor privou com estes trabalhadores do sudeste asiático, que já representam uma significativa força de trabalho na maior comunidade piscatória do país.
Segundo o fotojornalista, “há pelo menos 500 pescadores da Indonésia sediados em Vila Conde, representando mais de 50% da força de trabalho deste setor”, apontando que “sem eles metade da frota de barcos de pesca artesanal da região deixaria de operar”.
“Há uma grande necessidade de trazer estes trabalhadores e de fazer com que eles fiquem em Portugal. As nossas novas gerações estão afastadas da atividade e muitos dos pescadores locais vão trabalhar para outros países onde são [mais bem] remunerados. Percebi que sem estes indonésios, mais de metade dos nossos barcos de pesca estariam parados”, partilhou Eduardo Martins.
O autor reconheceu que esta era uma realidade que desconhecia, deparando-se com a existência desta comunidade em Portugal “por acaso”, através de uma visita a um supermercado indonésio no Porto.
“Estive a viver em Macau seis anos, e quando regressei fui um supermercado indonésio e perguntei quem eram os maiores clientes. Fiquei completamente surpreendido quando me disseram que havia uma grande comunidade do país a trabalhar nas pescas, especialmente, em Vila do Conde”, afirmou.
Com esse mote, Eduardo Martins foi até Caxinas, localidade de grande tradição piscatória em Vila do Conde, desenvolvendo contactos com pescadores e associações locais para dar forma ao seu projeto de retratar esta comunidade migrante.
“A minha ideia nunca foi incidir apenas na parte laboral. Interessou-me, também, os seus momentos de lazer, de convívio entre eles, e o espaço que ocupam na comunidade local fora do tempo de trabalho”, explicou.
O fotojornalista notou que, “apesar dos constrangimentos da barreira linguística”, estes trabalhadores “têm uma grande vontade de se integraram na comunidade, participando inclusive nas tradicionais festas populares em Vila do Conde e Póvoa de Varzim”.
“São quase todos da ilha de Java, e criaram cá associações para se apoiaram mutuamente, não só nos aspetos laborais como na integração em Portugal. Uma das coisas que para eles é reconfortante é implementar esse espírito de comunidade e entreajuda”, completou Eduardo Martins.
O título da exposição, “Nelayan [a palavra indonésia para pescador]: Vontade em Trânsito” espelha, segundo o fotojornalista, o sentimento que estes trabalhadores indonésios têm nesta sua passagem por Portugal, que, para a grande maioria, não será permanente.
“Pelo que percebi, a ideia de quase todos não é permanecer no nosso país a longo prazo. Eles vêm com contratos de trabalho de 18 meses, com o objetivo de ganhar dinheiro para ajudar as famílias ou abrir um negócio na Indonésia, e depois regressarem ao seu país”, afirmou o autor.
O autor sentiu o reconhecimento desse trabalho por parte da comunidade local, e mais concretamente pelos empregadores, não vislumbrando maus-tratos, segregação ou falta de condições laborais.
“Não presenciei nem testemunharam maus tratamentos. Todos estes indonésios só podem vir para nosso país com documentação, contrato de trabalho, com pelo menos o salário mínimo nacional, cabendo, ainda, aos armadores providenciar-lhes alimentação e alojamento”, explicou.
Eduardo Martins reconheceu que, em alguns casos minoritários, “as condições de habitação podiam ser melhores”, mas garante que “nada se compara aos casos relatados com os migrantes no Alentejo”.
Depois da inauguração da exposição fotográfica este sábado, no Mira Fórum, no Porto, a mostra desdobra-se até ao Mercado das Caxinas, em Vila do Conde, a 25 de fevereiro com uma exposição num registo mais pessoal.
Eduardo Martins, de 40 anos de idade, natural de Viseu, confessou que gostaria de dar sequência ao projeto, conseguindo financiamento para uma viagem até à Indonésia para “fazer o outro lado da história, retratando as famílias destes pescadores, e a vida dos regressam depois desta experiência em Portugal”.
O autor contou para a realização desta fase do projeto com o apoio da Direção-Geral das Artes, da Câmara Municipal de Vila do Conde, do Museu Marítimo de Ílhavo, da Associação Bind’ó Peixe, entre outras entidades.

📷 Eduardo Martins