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História das sapatilhas portuguesas em exposição na Casa do Design em Matosinhos

11 Fevereiro 2023
História das sapatilhas portuguesas em exposição na Casa do Design em Matosinhos
Cultura
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Uma coleção particular, com 500 pares de sapatilhas de marcas portuguesas, reunida ao longo dos últimos 20 anos “de investigação no terreno”, está na base da exposição que abre ao público este sábado na Casa do Design, em Matosinhos.
“Sapatilhas: Marcas Portuguesas, do Estado Novo ao Virar do Milénio”, com curadoria do ‘designer’ e professor Pedro Carvalho de Almeida, pretende, segundo o curador, “partilhar com o público em geral este universo de 500 pares de sapatilhas, representativos de cerca de cem marcas, e proporcionar uma retrospetiva histórica sobre aquela que foi a produção industrial nesta tipologia de calçado em Portugal”.
O curador disse que o segundo objetivo da mostra “é proporcionar um espaço para a reflexão crítica sobre a importância que este legado industrial representa, e como pode esta memória, e estes fragmentos de uma parte da história da indústria portuguesa no século XX, ser [mais bem] preservada, partilhada e, sobretudo, ser potenciada à luz daquilo que são as grandes preocupações atuais”.
“Se por um lado há uma intenção de dar a conhecer uma parte da História, por outro lado o objetivo passa por se perceber o que é que nós podemos fazer com isto”, afirmou o curador.
Na base da exposição está a coleção de sapatilhas portuguesas de Pedro Carvalho de Almeida, que tem “para cima de 500 pares, de 77 marcas”, e “resulta de uma investigação com 20 anos de trabalho no terreno” sobre uma indústria maioritariamente centrada no Norte do país, em Porto, Braga, Guimarães, Felgueiras, mas com expressão também na região de Santarém e, ainda mais a norte, em Montalegre.
Os 500 pares que compõem a coleção foram “identificados em lojas, armazéns, feiras de velharias” e “alguns doados”.
“Fundamentalmente, esta coleção resulta de uma primeira parte de investigação dedicada à [marca de sapatilhas] Sanjo e depois de um outro projeto de investigação dedicado à Cortebel. E pelo meio foram-me chegando exemplares de outras marcas”, contou.
Em “Sapatilhas: Marcas Portuguesas, do Estado Novo ao Virar do Milénio” estão representadas cerca de 100 marcas, mais 23 do que na coleção de Pedro Carvalho de Almeida. As marcas das quais Pedro Carvalho de Almeida não tem exemplares foram identificadas “através de embalagens, publicidade e outros documentos, que demonstra factualmente que existiram”.
No universo das 100 marcas “foi possível identificar pelo menos três que ainda estão no ativo e se encontram nas mãos dos proprietários originais”. Destas três, “apenas uma, a Desportex, ainda funciona nas instalações originais”, em Fiães, no concelho de Santa Maria da Feira.
O par mais antigo que poderá ser visto na Casa do Design data da década de 1950, “embora a marca mais antiga presente na exposição remonte a 1932”.
A mostra foi organizada por núcleos, “sendo o primeiro uma contextualização histórica daquilo que foi a evolução das sapatilhas e da socialização do Desporto em Portugal”.
Há núcleos dedicados a duas marcas: um apresenta o caso da Empresa Industrial de Chapelaria, “no ativo até 1996 e que foi responsável pela criação e desenvolvimento das sapatilhas Sanjo”, e o outro à Cortebel, marca que “serviu de base para um projeto de investigação desenvolvido em contexto industrial”.
“Foi desenvolvida a arqueologia da marca e identificadas as suas principais tipologias, mas [o projeto] serviu também como laboratório experimental para o desenvolvimento de uma série de protótipos que celebram a história e o legado industrial desta marca, tendo sido utilizadas máquinas originais e moldes de modelos icónicos da Cortebel, desenvolvidos com os operários e que envolveram também comunidades de tecedeiras de Almalaguês [freguesia do município de Coimbra]”.
Para Pedro Carvalho de Almeida, este caso “demonstra o que é possível fazer-se no que diz respeito à exploração destes recursos produtivos numa lógica mais contemporânea”.
Na exposição há também um núcleo que aborda “as principais tecnologias de produção utilizadas em Portugal, designadamente a vulcanização, a injeção de termoplásticos (solas injetadas) e a chamada montagem plana”, e um outro que foi batizado de “Repositório”.
No “Repositório” é apresentada uma instalação audiovisual, que é “um convite à participação dos visitantes para poderem contribuir com histórias, memórias, objetos e que possam contribuir para esta construção de um legado em permanente desenvolvimento”.
A coleção de Pedro Carvalho de Almeida, “guardada em instalações próprias”, está a ser “mostrada pela primeira vez” em “Sapatilhas: Marcas Portuguesas, do Estado Novo ao Virar do Milénio”, mas, de acordo com o ‘designer’ está em desenvolvimento um protocolo com o Museu do Calçado, em São João da Madeira, “onde a coleção será visitada expectavelmente no futuro”.
“Até agora estiveram bem guardadas, mas com o passar do tempo há aspetos que fazem com que mereça estar guardada em condições de proteção mais consentânea com a sua importância e significado”, defendeu.
Com o passar do tempo, embora Pedro Carvalho de Almeida tente ter a coleção guardada nas melhores condições, alguns exemplares “começam a ter problemas de degradação devido a flutuações de temperatura e humidade”.
“Sapatilhas: Marcas Portuguesas, do Estado Novo ao Virar do Milénio” estará patente na Casa do Design até 27 de agosto.