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Parte dos cães adotados em 2020 no Grande Porto adoeceu quando o último confinamento acabou

21 Maio 2021
Parte dos cães adotados em 2020 no Grande Porto adoeceu quando o último confinamento acabou
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O confinamento em 2020 trouxe associado um ‘boom’ de pedidos de adoção de animais na região do Grande Porto, uma solução que as associações contactadas revelaram ter causado problemas de saúde, sobretudo aos cães, assim que o país desconfinou.
Os efeitos colaterais da chegada da Covid-19 pesaram também na vida dos animais adotados no primeiro trimestre de 2020, depressa passando das 24 horas de companhia humana durante o confinamento para 12 horas de solidão assim que as pessoas retomaram as suas rotinas profissionais e escolares, situação que segundo Lígia Andrade, da Associação Midas, “traumatizou os animais”.
“A partir de março de 2020, houve um ‘boom’ de pedidos de animais para adoção e, no nosso caso, porque já tínhamos confinado, apenas tratamos as adoções que haviam chegado antes do país fechar”, explicou a responsável da associação de Matosinhos.
Nesse contexto, criaram a campanha “O animal não é apenas para confinar”, sensibilizando as pessoas para a “responsabilidade que é adotar um animal”, disse Lígia Andrade.
“Atualmente, estamos a receber muitos pedidos para entregar animais, alegando as pessoas que os encontraram, recolheram ou adotaram, sendo que esses animais nem sequer têm um ano de idade, ou seja, foram para as famílias após a chegada da pandemia e agora as pessoas querem entregá-los”, observou.
Entre os motivos invocados, descreveu, estão o “mudar de casa, foram despejados ou que vão emigrar”, contou a responsável da associação que anualmente entrega “300 animais para adoção” e apresenta uma “taxa de devolução inferior a 1%”.
“São muitos por dia, muitos pedidos de ajuda da mais variada ordem. Até houve casos de cães cujos donos tinham morrido por causa da Covid-19, como aconteceu em março e abril deste ano”, acrescentou.
Conclui Lígia Andrade que “a Covid-19 ajudou a inflacionar o problema”.
“Findo o confinamento, as pessoas retomaram os seus ritmos normais, indo trabalhar ou para a escola e o animal passa a ser um empecilho, passando de um cenário de 24 horas na companhia dos humanos para 12 horas de solidão, o que os faz entrar em depressão, sendo que não têm a nossa capacidade para o manifestar”, disse.
Ângela Lima, do Cantinho do Tareco, um gatil na Maia, viveu em dobro o aumento da realidade em 2020, confirmando ter aumentado o número de gatos adotados, mas também de animais recolhidos, uma missão para a qual a associação que integra contou com uma ajuda extra.
“Tivemos muitas adoções de gatos em 2020, mas também acolhemos mais gatos que o normal, pois conseguimos arranjar famílias de acolhimento temporário para ficarem com as ninhadas”, explicou.
Questionada sobre se tinha recebido pedidos de devolução de gatos alegando que estes passaram a estar sozinhos em casa, a responsável minimizou a questão.
“A solidão nos gatos não se manifesta da maneira agressiva como a que é descrita no caso dos cães. Os gatos são mais independentes e, ao mesmo tempo, mais reservados”, sublinhou.
A Cerca – abrigo dos animais abandonados, na Póvoa de Varzim, segundo a responsável Raquel Nobre, optou por antecipar o problema e não entregou nenhum animal para a adoção assim que o país fechou.
“Apercebemo-nos que, como as pessoas estavam em casa, ter um animal por perto fazia-lhes bem para ultrapassar o confinamento. O problema é que o regresso à normalidade iria fazer com que o animal acabasse por ficar sozinho e desatasse a roer, a fazer asneiras, a fazer barulho e acabaria por ser devolvido”, disse a diretora Raquel Nobre.