A Ordem dos Enfermeiros Norte acusou a tutela de “fazer uma cortina de fumo” à informação sobre transferências de doentes no Norte do país para Lisboa.
“Chegaram-nos vários relatos de transferências de doentes do Norte para a zona de Lisboa, o que, para nós, só é compreensível à luz de termos recursos a Norte esgotados ou em vias de esgotar. Estamos a assistir a uma passividade, pelo menos em termos de comunicação, da tutela e da Direção-Geral da Saúde [DGS] que não se entende. É uma cortina de fumo à informação sobre transferências”, referiu João Paulo Carvalho.
Após descrever que enfermeiros de vários hospitais mostram “cansaço e exaustão”, o presidente da Secção Regional do Norte da Ordem dos Enfermeiros disse ter conhecimento de que o Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS) está a transferir doentes infetados com o novo coronavírus para Lisboa, Coimbra, Aveiro, Braga, Viana do Castelo, Porto, bem como para o hospital da Misericórdia de Paredes, sendo que sobre este último caso, segundo João Paulo Carvalho, os relatos são “dramáticos”.
“Foi-nos comunicado oficiosamente que os doentes transferidos para o Hospital da Misericórdia de Paredes são doentes que não têm indicação para reanimação em caso de paragem cardiorrespiratória. Precisamos de confirmar que o Hospital de Paredes tem serviço de cuidados paliativos e que estes doentes estão a ter todo o tratamento necessário para o seu estado. Preocupa-nos qual é o tratamento que estes doentes estão a ter no seu fim de vida. Não pode valer tudo”, disse João Paulo Carvalho.
Em causa está o centro hospitalar que na semana passada chegou a registar 10% dos internamentos nacionais por Covid-19.
Fonte do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS) referiu que na quinta feira da passada semana este centro hospitalar acolhia 188 doentes Covid-19 internados, dos quais 11 em cuidados intensivos.
João Paulo Carvalho defendeu uma ação “mais musculada” para “tentar quebrar cadeias de contágio” na zona do Tâmega e Sousa.
“Estamos neste momento com doentes do Vale do Sousa em todo o país e isso reflete-se na pressão dos hospitais vizinhos”, resumiu João Paulo Carvalho.
Também de acordo com dados da Secção Regional do Norte da Ordem dos Enfermeiros, os hospitais de Guimarães e de Famalicão “terão atingido o limite das suas capacidades” e “já transferiram doentes para o Santa Maria em Lisboa”.
“Nestas duas unidades hospitalares os serviços de internamento Covid-19 estão cheios. Os serviços de urgência têm uma pressão brutal e não têm capacidade de resposta adequada, atempada e com qualidade. As equipas estão altamente deficitárias e esgotadas. Temos relatos de enfermeiros que estão a ficar doentes, que já não conseguem aguentar tantas horas porque lhes estão a ser pedidas horas extraordinárias”, descreveu João Paulo Carvalho.
O Centro Hospitalar do Médio Ave (CHMA) atribui as “eventuais transferências” para outros hospitais à “necessidade de cuidados diferenciados”.
“Famalicão não tem cuidados intensivos pelo que terá sempre, infelizmente, de transferir se o doente entrar em estado crítico. O CHMA [que além de Famalicão tem unidade em Santo Tirso] não está esgotado. Ontem [quarta feira da semana passada] tinha 91 doentes Covid-19 e capacidade de aumentar respostas”, referiu a mesma fonte.
A Secção Regional do Norte da Ordem dos Enfermeiros pediu também esclarecimentos ao Hospital de Braga sobre o internamento “num mesmo serviço de cuidados intensivos de doentes Covid-19 e não Covid-19”.
“Temos de perceber como é que se coloca doentes de diferentes tipologias no mesmo serviço sem aumentar o risco, quer para os doentes internados, quer para os profissionais de saúde”, disse João Paulo Carvalho.
Confrontado com esta denúncia, o Hospital de Braga respondeu que “com o aumento do número de doentes críticos devido à Covid-19, foi necessário expandir a capacidade de internamento numa nova área intensiva com separação efetiva entre doentes Covid e não Covid”.
Em comunicado, o Hospital de Braga, que acolhe 97 doentes infetados com o novo coronavírus em enfermaria e 21 em cuidados intensivos, garantiu que são cumpridas “todas as normas de segurança e distanciamento entre doentes”.