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Vamos à bola ou ficamos em casa com medo?

13 Setembro 2017
Vamos à bola ou ficamos em casa com medo?
Opinião
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Dizia eu aqui na minha última crónica que com as várias alterações em termos de jogadores, equipa técnica e estilo de jogo, o Rio Ave precisaria de algum tempo para tudo começar a rolar sobre rodas e que o ideal seria que esse tempo fosse feito sobre vitórias. Felizmente é isso que tem acontecido. Começámos o campeonato vencendo em casa o Belenenses, com uma exibição tremida, fomos depois ao Bessa vencer o Boavista por 2-1 merecidamente e com uma exibição no global positiva, para depois voltarmos a vencer em casa o Portimonense por 2-0. Chegávamos ao fim da 3ª jornada só com vitórias, empatados na liderança com Sporting, Benfica e F.C. Porto. A imprensa elogiava o trajecto do Rio Ave e a sua qualidade de jogo, mas na realidade ainda não tínhamos convencido completamente, em termos exibicionais. Na 4ª jornada tivemos o primeiro grande teste a esta equipa ao defrontar em casa o Benfica. O Rio Ave foi aí sim uma equipa com enorme personalidade, pressionando alto quando não tinha bola e construindo sempre o jogo a partir do guarda-redes Cássio, mesmo quando sob grande pressão adversária. É uma imagem de marca deste Rio Ave, na sequência do bom futebol da época passada, mas sendo agora mais vincada essa necessidade de construir o jogo com pés e cabeça, em vez de um futebol directo onde as bolas divididas podem sempre significar dar a bola ao adversário. Colocámo-nos justamente em vantagem e o Benfica só de grande penalidade empatou, tendo depois criado 2 ou 3 ocasiões onde até poderia ter vencido (injustamente pelo global dos 90 minutos) mas Cássio mostrou que ainda é um dos melhores guarda-redes a actuar em Portugal. Para este bom futebol, é necessário obviamente matéria prima, e nesse aspecto, Geraldes e Barreto conseguem colmatar a saída de Krovinovic e juntando-se a Rúben Ribeiro preenchem o meio campo atacante com qualidade acima da média. Não chega no entanto ter bons jogadores, é necessário muito trabalho para tudo sair bem mesmo sob pressão e aí, o trabalho de equipa é fundamental para se arranjarem sempre linhas de passe para o portador da bola. Conseguimos transportar a bola da nossa baliza até próximo da área adversária com grande qualidade, mas acho que ainda temos de melhorar os processos no último terço do terreno. Os pontas de lança têm tido poucos cruzamentos, sendo muitas vezes os médios a finalizar à entrada da área. Entretanto na Taça da Liga, frente ao Cova da Piedade, da segunda liga, conseguimos cumprir o objectivo de passar à fase de grupos. Com tanto e tão bom futebol a disputar-se mais uma vez em Vila do Conde, não faltam motivos para os vilacondenses amantes da modalidade se fazerem sócios e passarem a apoiar e ter orgulho no Clube da sua terra.
Uma das novidades desta época, o vídeo árbitro, tem já tido várias intervenções ao longo destas jornadas, quanto a mim com saldo claramente positivo no evitar de alguns golos irregulares. Por vezes tem pecado por omissão, mas ninguém disse que os erros iriam desaparecer. Os adeptos também têm de se ir adaptando a esta nova realidade e eu já cheguei a não festejar um golo nosso por pensar que o marcador estava em fora de jogo e que o golo iria ser anulado. Felizmente verificou-se que estava em boa posição e o golo foi mesmo validado, mas apesar de ficar satisfeito com o golo, perdi a emoção de o festejar.
E se há aspectos em que o futebol tem evoluído, noutros tem regredido para épocas medievais. A falta de respeito entre adeptos de clubes diferentes e a simples intolerância da sua existência são aspectos que me deixam estupefacto e por vezes sem vontade de colocar os pés num estádio. Os acontecimentos no jogo particular Rio Ave – Leixões, onde se jogaram somente 27 minutos e os recentes acontecimentos no Rio Ave – Benfica, com sururus e pancadaria dentro e fora do estádio, com perseguições a adeptos somente por terem uma camisola do adversário, não augura nada de bom para o desejado aumento das lotações nos estádios de futebol. Se dantes estes conflitos se restringiam às claques dos “3 grandes”, hoje em dia é um fenómeno generalizado. Pelos vistos, estar numa bancada com a camisola do seu clube vestida é para muitos, uma provocação. Criam-se “jaulas” para os visitantes, proíbe-se a presença de adereços do clube visitante em algumas zonas dos estádios, expulsam-se adeptos do local para onde compraram bilhete. Infelizmente, constato que no nosso estádio se vai pelo mesmo caminho. Talvez seja a única solução a curto prazo e perante o panorama actual, mas eu gostaria de ver a Liga e a FPF a promoverem a tolerância no futebol, em vez de tomarem medidas que pactuam e incentivam a intolerância.
Se introduziram o vídeo-árbitro, porque não introduzir (ou efectivamente usar) o vídeo-polícia? Não era desde o Euro 2004 obrigatório os estádios terem câmaras de vigilância para identificação de prevaricadores nas bancadas? Será assim tão difícil ter meia dúzia de câmaras que identifiquem quem não sabe estar no futebol, quem promove escaramuças nas bancadas, quem leva engenhos pirotécnicos, quem arremessa objectos para o relvado? Ou preferem passar a ter medo de andar na rua com a camisola do vosso clube sem serem importunados?

Renato Sousa