Última hora

Make America Trump Again!

20 Janeiro 2017
Make America Trump Again!
Opinião
0

Estas minhas crónicas começam quase sempre com o “confesso”, pode parecer aborrecido mas eu acho isto ótimo. Uma confissão é sempre algo pessoal e acho ótimo que sinta esta vontade de o fazer em público.
Portanto confesso que por estes dias tem-me faltado a motivação necessária para escrever o que gosto e da forma que gosto. Aliás, por “outros lados” começo a sentir-me mal com a revolta que as minhas palavras me soam, em dias que apesar de não serem fáceis, devem pela minha natureza ser persistentes no acreditar.
Por sugestão pensei no discurso de despedida de Obama, confessando desde já que só vi/li em parte, mas tal como todos vocês, senti o efeito que tiveram as suas últimas palavras como Presidente. Faço desde já uma declaração de interesses em relação ao assunto, uma vez que sou fã de Obama e sou fã do povo americano que já me acolheu de forma calorosa, por várias vezes e infelizmente por motivos de saúde. Nunca confundam os americanos com quem os governa, para o bem e para o mal… Por isso ficará para a história milenar, como foi possível que o mesmo povo que elegeu este homem, que mudou a política americana, foi o mesmo que nas eleições seguintes acaba de eleger, se me permitem este excremento como é a personagem Donald Trump. E não se choquem com as minhas palavras, pois temo que o que veremos nos próximos tempos será bem mais chocante…
E porquê Obama e o seu discurso final? Porque eu acho que preciso muito daquelas palavras, daquela emoção e sobretudo daquela motivação. A tal que faltava para dizer algumas coisas por aqui. Os dias que correm são difíceis, são-no para mim e para o Mundo inteiro. O que mais nos corrói não é tanto enfrentar as adversidades, as dificuldades e todos os nossos monstros com que nos deparamos todos os dias. Para quem acorda todas as manhãs com vontade de mudar o Mundo, nem que seja num milímetro da sua dimensão, é destroçante ver como o erro se repete. Como por vezes é difícil ACREDITAR que se pode mudar alguma coisa, quando os protagonistas, nós, as pessoas, parecem não mudar. Pior do que isso, parecem insistir no erro e fazer do destino uma realidade tão circular como o próprio planeta, em que o ponto de partida coincide com o de chegada. Há uma teoria na Geometria Descritiva que diz que duas rectas paralelas se encontram no infinito. Eu já adorei e odiei a Geometria, e se há coisa que percebi em relação a estas ciências, é que tudo se torna incrivelmente fácil a partir do momento em deixamos a abstração e entendemos a realidade. Em simultâneo com essa perceção da realidade devemos ACREDITAR, ter a tal fé que nos permite pensar que duas rectas paralelas afinal se encontram um dia destes, se não for mais no infinito…
“Yes we did it” foram as últimas palavras de Obama, que mudou o país mais poderoso do Mundo e por isso mudou este planeta. Palavras tão positivas como “yes we can” na campanha eleitoral, colocaram este primeiro presidente negro dos USA num patamar elevadíssimo das expectativas e que só pareciam ter como consequência a desilusão. Eu pensei assim, mas hoje reconheço que sim, ele conseguiu e digo isto não apenas por gostar das palavras, da imagem e da energia de Obama. O seu discurso final fala do ObamaCare, fala do reatar de relações com Cuba, com a retirada do Iraque, com o desmantelamento de Guantanamo e outras medidas, que aqui não me interessa para já reflectir.
“Os nossos filhos não terão tempo para debater a existência das mudanças climáticas. Estarão ocupados a lidar com os seus efeitos” disse Obama, mas também disse: “Peço-vos que usem as vossas habilidades para mudar as coisas”. O discurso e o legado que este homem nos deixa é sobretudo para ACREDITAR, para não nos deixarmos levar pelo medo e incerteza no futuro. Por que estará no medo e nessa falta de fé no futuro, a melhor forma de deixar vencer a descriminação e a intolerância.
Nada sei sobre destinos e coincidências, mas na verdade enquanto ouvimos estas palavras, assistimos a um mundo em mudanças aceleradas. Pior do que isso, assistimos ao impensável há uma década atrás. O julgado impossível (mau e de bom) acontece hoje, numa precipitação do tempo que nos ultrapassa no ritmo das nossas vidas pessoais. Mas o que temos de sentir não é aquela pequenez da formiga perante o gigante mundo que, pela diferença óbvia de tamanho, quase a calca. Pequenos são aqueles nepotistas como Trump, são os taticistas políticos que só pensam perpetuar lugares sem nada neles fazerem. São os mesquinhos que fazem política rasteira, que fazem recortes do mérito e imagem dos outros para que não ofusque o seu falso brilho. São também essas miniaturas de seres humanos, que ocupam lugares onde poderiam fazer muito e acabam no muito pouco, ricos e arguidos num qualquer processo de corrupção. São também os que valem não pelo que dizem ou fazem, mas apenas pelo que representam.
Temos de usar precisamente todas essas possibilidades que desenvolvemos para que o mundo continue a mudar depressa, para nos fazer grandes e, sobretudo, para nos fazer melhores. Como nesta versão multitasking em que vos escrevo no meu portátil, por entre uma reportagem da BBC sobre o discurso de Obama, a ferramenta de escrita, uma janela para o horizonte de Mindelo e o Itunes a tocar repetidamente Ennio Morricone na faixa The Mission…
A verdadeira revolução de Obama esteve, está e estará na valorização do “indivíduo”, o tal que é capaz, o tal que ACREDITA!

João Amorim Costa