Última hora

Vila do Conde acolhe peregrino com 107 mil quilómetros nas pernas

30 Setembro 2016
Vila do Conde acolhe peregrino com 107 mil quilómetros nas pernas
Cultura
0

O Albergue de Santa Clara, em Vila do Conde, recebeu esta semana a visita de José António Garcia Calvo, de 67 anos, que vive há mais de dez anos a caminhar pelo mundo, visitando lugares sagrados.
Pescador na Noruega, este espanhol foi o único sobrevivente do naufrágio de um barco que afundou no Mar do Norte, ao largo da Holanda, que vitimou 16 dos seus colegas a 1 de Janeiro de 1998. José António Garcia Calvo recorda que esteve “nove horas a flutuar entre os cadáveres até que me resgataram”, salientando que “se saísse dali vivo percorreria o mundo em peregrinação, para cumprir a promessa feita à Virgen del Carmen”.
Depois de oito meses numa câmara hiperbárica e um ano de recuperação em casa, José António Garcia Calvo começou a missão que prometeu.
A pequena e frágil estatura de José António Garcia Calvo esconde uma fé que já deu “a volta ao mundo”, com cerca de 107 mil quilómetros percorridos em peregrinação, para cumprir uma promessa que fez e percorrer os locais de culto de todo o mundo, em agradecimento à Virgen del Carmen.
Ao longo de mais de uma década, José António Garcia Calvo já percorreu inúmeros locais sagrados, incluíndo Palestina, Israel, Tibete, Índia, Nepal, Rússia, América do Norte e do Sul.
José António Garcia Calvo oi recebido pelo Papa João Paulo II, em 2001, conheceu Dalai Lama, em 2005 e, mais recentemente, o Papa Francisco.
Há um ano atrás, iniciou o último percurso de fé e vontade, com partida de Jerusalém, passando por África, tendo entrado em Portugal pela cidade de Faro e percorrendo o país até alcançar o último santuário, em Santiago de Compostela.
Encontrámo-lo em Vila do Conde, a “descer até Fátima para regressar a casa em Cádiz”.
O pescador começou a sua peregrinação com as poupanças de uma vida, cerca de 36 mil euros, mas “já há algum tempo que o dinheiro se gastou” e José António Garcia Calvo vive da bondade das pessoas que vai encontrando pelo caminho e dorme onde calha, “ora na tenda, ora num albergue”.
Ao final da tarde desta quarta feira, 28 de setembro, encontramo-lo na praça de São João, junto ao Mercado de Vila do Conde, com pouco mais de dois euros no bolso, mas o reconhecimento na rua levou a que o proprietário de um restaurante local se prontificasse a oferecer o jantar.
Apesar de não ter passado por situações complicadas, José António Garcia Calvo diz que os “países mais católicos são os menos praticantes” que nesta longa viagem se encontrou a si próprio: “diminui a fé na Igreja Católica mas aumentei a crença no ser humano”.