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A TV no Futebol

28 Setembro 2016
A TV no Futebol
Opinião
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Lembro-me de na adolescência, para além de acompanhar ao vivo os jogos do Rio Ave, seguir os restantes jogos via rádio aos domingos à tarde na Antena 1, a única rádio que fazia o acompanhamento de todos os jogos da primeira divisão e mais alguns da segunda. Na televisão, dava no máximo um jogo por semana e de resto era esperar pelos resumos no Domingo Desportivo. Cheguei a ter várias cassetes VHS cheias de resumos de jogos do Rio Ave que revia frequentemente. Os tempos foram mudando e com a televisão por cabo e o aparecimento de canais dedicados exclusivamente ao desporto, foram progressivamente aumentando o número de jogos transmitidos na televisão. Esta época, pela primeira vez, todos os jogos da primeira liga nacional têm transmissão televisiva. O que isto traz de positivo é claramente a possibilidade de vermos todos os jogos do nosso Clube, porque mesmo com a possibilidade de nos deslocarmos facilmente a grande parte dos estádios, que se encontram maioritariamente no norte do país, era mais complicado ver os jogos na Madeira ou abaixo de Lisboa. Outro impacto que poderá ter é no maior escrutínio dos erros dos árbitros. Com todos os jogos a serem transmitidos, ainda que nem todos com o mesmo número de câmaras, os árbitros sabem que têm mais olhos a avaliar e agora não são só os “grandes” a poderem fazer as habituais queixinhas com vídeos a descrever todos os erros em que foram prejudicados e a esquecer todos os outros em que foram beneficiados. Outra alteração que este novo panorama provoca é o surgir de novos horários para os jogos, de modo a minimizar a sobreposição dos mesmos. O Rio Ave por exemplo, defronta na 7ª jornada o Estoril num sábado às 11h45 da manhã. Um impacto que ainda não sei se será significativo é o das assistências nos estádios. No nosso caso, já jogámos com F.C. Porto e Sporting em casa, com estádios praticamente cheios, pelo que a nossa média de assistências só no final se verá se fica acima ou abaixo das épocas anteriores. Acredito que se muita gente hesitava em ir ao estádio em dias de chuva ou frio, agora com a transmissão televisiva a decisão será mais fácil de tomar. Por outro lado, penso que quem gosta verdadeiramente do Clube, prefere ver os jogos no estádio. Há outro ambiente, há também a possibilidade de perceber melhor os aspectos tácticos do jogo, do que via televisão com planos mais apertados. Penso no entanto que as assistências estarão mais dependentes da qualidade do nosso futebol do que das transmissões televisivas e nesse aspecto, estou confiante que esta época jogaremos um futebol mais atraente, dando mais um passo no crescimento que temos vindo a fazer. Prova disso foi a vitória categórica que conseguimos em casa frente ao Sporting. Um futebol bonito, eficaz, visto por mais de oito mil no estádio e por muitos mais via TV. Foi daqueles jogos que nos deixa cheios de orgulho por conseguirmos no campo, com menos meios, derrotar uma equipa de milhões. É que no futebol, em cada jogo, qualquer uma das equipas tem sempre a possibilidade, ainda que ínfima por vezes, de derrotar o seu adversário. Se nos ordenados dos jogadores ou nos valores das transferências são cada vez mais escandalosos os valores que se vão praticando, no campo, um jogador ganhar 10 vezes mais que o adversário não faz com que consiga correr 10 vezes mais rápido. No campo conta o brio profissional, a superação individual e a qualidade do jogo colectivo. Naturalmente que os clubes com mais posses conseguem pagar melhor e por isso ter uma maior quantidade de jogadores acima da média. Isso pode não ser decisivo num jogo concreto onde qualquer clube pode vencer ou perder com qualquer outro, mas ao longo de um campeonato, as equipas ficam em média ordenadas pela qualidade dos seus plantéis. Se quisermos tornar o nosso campeonato mais competitivo e ter alguém a voltar a intrometer-se na luta pelo campeonato fora os três crónicos candidatos, um dos passos essenciais será uma distribuição mais equitativa das receitas das transmissões televisivas. Atualmente, cada clube negoceia individualmente com os operadores de televisão e fica todo contente por ter duplicado a sua receita televisiva, não percebendo que todos aumentaram as suas receitas, mas os tubarões aumentam numa proporção bem maior. Se em Inglaterra o primeiro classificado recebe cerca de 1.3x o que recebe o último, em Portugal esse rácio é de um fator de cerca de 10x, o que faz com que o fosso entre os maiores e os mais pequenos se vá alargando. Pode ser que um dia os clubes mais pequenos se unam e defendam verdadeiramente os seus interesses a longo prazo. Para já, vão andando ao sabor de empréstimos que lhes garantam a manutenção na primeira liga por mais uma época. Eu ainda tenho esperanças de um dia ver o nosso Rio Ave a ser o Leicester de Portugal, mas no panorama atual, esse dia ainda vem longe. O que me vale é que sou paciente.

Renato Sousa