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Gestão Desportiva / Financeira

19 Agosto 2016
Gestão Desportiva / Financeira
Opinião
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A gestão de um clube de futebol profissional tem necessariamente que abordar duas vertentes: a desportiva e a financeira. Normalmente quando uma corre bem a outra vai atrás, quando algo corre mal, por vezes tem que se optar por sacrificar uma das duas. Mas mesmo quando tudo corre bem, é preciso ter cabeça para não dar passos maiores que a perna porque o tempo das vacas gordas rapidamente pode acabar. O Rio Ave não conseguiu o primeiro objectivo da época que consistia em passar à fase de grupos da Liga Europa. Era um objectivo desportivo, mas acompanhado de um importante encaixe financeiro. Com dois empates na 3ª pré-eliminatória com o Slavia de Praga, o golo sofrido em casa ditou a eliminação. Como aqui havia dito e como o Presidente do Clube afirmou recentemente, não há que dramatizar. O futuro do Rio Ave não dependia da bola entrar ou não, simplesmente terão de ser adiados projectos que estão na gaveta para melhoria das infraestruturas. Naturalmente sem esse encaixe financeiro, há agora que ponderar se se vende o passe de algum jogador (havendo mercado para isso) com prejuízo da vertente desportiva, ou se se “investe” na manutenção do plantel, com eventual prejuízo da vertente financeira. Acredito que não saindo ninguém agora (Marcelo e Wakaso parecem ser as únicas hipóteses) haverá outros nomes que poderão explodir até Janeiro se jogarem regularmente: João Novais e Krovinovic por exemplo. Esta dupla gestão que tem de ser feita, tem de ser bem balanceada e é por vezes complicado tomar decisões a favor de uma ou outra vertente. Ainda na época passada, Marvin saiu em Janeiro para o Sporting, tendo-se favorecido a vertente financeira já que o jogador terminaria contrato no final da época, mas perdemos claramente na vertente desportiva porque saiu o nosso melhor extremo. Estas entradas e saídas já com o campeonato a decorrer, para mim não fazem sentido. Os planteis deveriam ficar fechados antes da primeira jornada do campeonato e não deveria ser permitido ajustes no plantel em Janeiro, a não ser recorrendo a jogadores das camadas jovens ou de outros campeonatos. Que sentido faz ainda na época passada Hassan ter marcado por nós contra o Braga e passados uns meses, durante o mesmo campeonato, estar a marcar pelo Braga contra nós? Também na questão dos empréstimos, sempre fui contra a possibilidade de emprestar jogadores a equipas do mesmo campeonato. Neste momento estão limitadas a 3 por clube e esses jogadores emprestados ficam impossibilitados de defrontar as equipas de origem, como nos aconteceu agora na primeira jornada com Rafa Soares emprestado pelo F.C. Porto. Estes empréstimos entre clubes do mesmo campeonato contribuem para uma concorrência desleal, gerida essencialmente pelos 3 “grandes” do futebol português. São eles que decidem a quem emprestam os jogadores, criando logo à partida desigualdades e menor poderio para as equipas que não têm possibilidade de acesso a esses jogadores e ainda por cima são também os “grandes” favorecidos por defrontarem sempre equipas desfalcadas dos emprestados, enquanto os outros defrontam essas mesmas equipas na máxima força.
Sem Rafa Soares, emprestado, o Rio Ave iniciou o campeonato neste fim de semana perdendo com o F.C. Porto em casa. Uma derrota natural em face do diferente poderio das duas equipas, mas que no campo se traduziu por um equilíbrio em termos de posse de bola e ocasiões de golo. A diferença no marcador deve-se essencialmente à maior eficácia e qualidade individual por parte do F.C. Porto, mas o Rio Ave demonstrou com uma exibição desinibida que conseguirá lutar pelos 3 pontos com qualquer adversário e em qualquer campo. O calendário das primeiras jornadas não é fácil e no pior dos cenários, poderemos demorar a chegar à primeira metade da tabela classificativa, mas que isso não tire a confiança no plantel e equipa técnica que temos para esta época. Na minha opinião, o plantel não estará tão equilibrado em termos de banco para algumas posições, mas acho que temos um onze base melhor do que o da época passada. Se isso se vai traduzir em mais vitórias ou não, só o futuro o dirá. O futebol não é uma ciência exacta e o campeonato é muito longo. Para além do sortilégio do sorteio, que nos faz jogar neste caso com equipas teoricamente difíceis nas primeiras jornadas, há depois a variação da forma física e psicológica das diferentes equipas ao longo do campeonato. Essa aleatoriedade é que faz com que o Tondela tenha vindo vencer a Vila do Conde na época passada, como nós fomos empatar ao estádio do Dragão e a Alvalade. Se o futebol fosse uma ciência exacta era uma chatice, assim, estamos já todos ansiosos por ir jogar a Braga na próxima jornada, com esperanças de lá trazer os 3 pontos. E por falar em Braga, quando muito se criticam as condições do nosso estádio e se aponta como sendo um dos factores porque não temos mais público, o que dizer do estádio do Braga, onde os visitantes têm que subir dezenas de degraus para ver o jogo ao nível de um 10º andar e com uma rede pela frente? A mim custa-me pagar bilhete para ver futebol nestas condições, que se repetem no Dragão, na Luz e em Alvalade (onde ainda não fui). Assim o mais provável é que veja esses jogos via TV.

Renato Sousa