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Hoje é dia de Vila do Conde! A minha terra tem memória.

26 Março 2016
Hoje é dia de Vila do Conde! A minha terra tem memória.
Opinião
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Começo por pedir desculpa pela redundância de ter como tema desta minha crónica a celebração de um dia, mas, de facto, no dia em que esta crónica sairá será o Dia de Vila do Conde.
Sem querer dar um tom demasiado bairrista que, por vezes, roça a mesquinhez de quem não vê mais do que a sua terra. Ou de quem quer cavalgar numa imagem politicamente correta de quem defende e ama a sua terra acima de tudo. Tenho de confessar algum radicalismo neste tema, porque de facto prezo o sentido mais radical do que às minhas raízes diz respeito.
Na verdade, sou vilacondense nascido em meio rural, criado em meios urbanos de outras terras e entre Caxinas e Vila do Conde. Confesso que não sei se o meu amor à terra se deve às suas qualidades que acho inigualáveis, ou se essa não será a subjetividade assente em qualquer reflexão genuína sobre o lugar de onde somos naturais. Também não me importa muito, porque hoje é com afetos que falo da minha terra, na celebração do seu dia. Sei que muitos acharão que a palavra afectos anda muito na boca dos nossos líderes e, concordando com essa moda, espero que isso não signifique a precariedade do seu próprio significado. Ou seja, como diz o meu querido Professor Carvalho Dias: “Moda é tudo o que passa de moda”.
Olho sempre Vila do Conde com deslumbre, mas também com uma saudável insatisfação para o potencial que nesta terra reside. Confesso também que me agrada mais ter o sentimento de insatisfação pelo que ainda não se fez por esta terra, do que pelo que se faz ou se poderia ter feito de errado. É esta ansiedade pelo futuro que me faz querer fazer parte dele e de, no presente, ser “oportunista” para aproveitar cada brecha que se me abre para fazer algo. Evidentemente que mais uma vez muitos interpretarão este meu sentimento como uma qualquer ambição de ser alguém. Margaret Tatcher dizia que na política existe quem queira fazer algo e quem queira ser algo.
Tudo isto leva-me a pensar não no que é Vila do Conde, mas sim quem é Vila do Conde. Sobre as condições e potencial do Concelho já muito foi falado e certamente que muito falarei por aqui. Mas hoje, dia desta terra, debruço-me sobre quem tem sido Vila do Conde.
No ano em que se comemoram os 500 anos do seu primeiro Foral, por D. Manuel, penso ser imperativo pensar não só no que foi, no que é, mas também qual foi e qual é a imagem de Vila do Conde.
Não me cabe a mim dar lições de história sobre os nossos grandes obreiros, os nossos mecenas, os nossos pintores e artistas plásticos. Mas a verdade é que Vila do Conde é aquilo que muitos homens e mulheres por cá fizeram. E, na verdade, vejo isso como excepcional. Vejo a “minha terra” muito fértil em grandes talentos, como que se tratasse de uma qualquer predisposição física para cá germinarem.
A verdade é que também sempre fomos gratos a essa Vila do Conde das pessoas geniais. Fazemos delas o rosto desta terra e a ingratidão nunca fez parte da nossa gíria natural.
No entanto, neste meu espaço de confissão pública, confesso o meu choque perante o que assisto. Tenho alguma fama de irreverência e independência política e talvez o que direi agora seja porventura para alguns chocante mas, se há condição que me revolta, e muito, é a ingratidão e a falta de carácter de quem se esquece de como chegámos a este momento e quem nos trouxe até aqui.
Há um certo folclore mediático em torno da nova liderança da autarquia, que respeito, mas com o qual não concordo. Nessa deriva populista estou até em crer que haverá uma obsessão em apagar a imagem de um líder que inegavelmente se tornou o rosto de Vila do Conde, durante quase 40 anos. Falo de Mário de Almeida, de quem fui adversário nas últimas eleições autárquicas, saindo das fileiras do seu partido para fazer parte de uma alternativa em que acreditava. Falo do líder do partido que elegeu a Presidente da Câmara Municipal, órgão ao qual pertenço como vereador do que se apelida de oposição.
De facto, considero urgente que se demonstre gratidão a quem geriu os destinos do nosso concelho durante quase 40 anos e que essa gratidão se traduza de modo oficial e institucional através da atribuição da Medalha de Mérito de Vila do Conde. Creio mesmo que nem se percebe porque tal ainda não sucedeu e evidentemente que considero desnecessário justificar o porquê de se o dever fazer. Será um ato de justiça que deve estar além das democráticas lutas políticas.
Consciente do provável impacto que este meu ato terá na opinião pública, deixo aqui a promessa de que não irei terminar o meu mandato como vereador municipal sem fazer a recomendação para que esta condecoração se concretize, pese embora acredite que agora já não irá ser necessário e que voltará a haver memória…
Faço parte de um Executivo Municipal eleito por milhares de vilacondenses. Não me recompensa apenas a imagem daquilo que somos e muito menos quero que me pese, no futuro, a memória do que não fizemos e deveríamos ter feito.

João Amorim Costa