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Añora

18 Março 2016
Añora
Opinião
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Añora. Até há poucos dias nunca tinha ouvido falar desta povoação espanhola, distante oitenta quilómetros de Córdoba, capital da província, e quatrocentos de Madrid. E o que é que tem de extraordinário Añora, onde estão registados pouco mais de mil e quinhentos habitantes? É “apenas” a povoação que mais compras faz através da internet, o paraíso das compras online, a capital do comércio electrónico.
Os seus habitantes adquirem desde livros a electrodomésticos, passando por alimentos, bijouteria, produtos de beleza, enfim, tudo o que está ao alcance de um mero clique no rato de um computador. E não se pense que estamos perante uma cidade habitada por jovens. Bem pelo contrário, a maior parte dos habitantes tem mais de quarenta anos. As explicações, avançadas pelo El Pais, são relativamente simples, sendo a mais relevante o isolamento geográfico a que estão votados. Com efeito, para fazerem compras para lá das quotidianas, tinham de se deslocar em viatura própria até à cidade mais próxima, despendendo uma hora em cada sentido. E muitas vezes nem sequer encontravam o que pretendiam.
Com a Internet, tudo mudou. Não só conseguem sempre comprar o que desejam, como podem encomendar produtos em qualquer parte do mundo. Só para se ter uma ideia, em 2014, a Amazon enviou catorze encomendas para Añora – por dia! A isto somem-se muitas outras, incluindo as provenientes de outros gigantes do comércio electrónico, como a chinesa Ali-Baba, e está encontrado o motivo para reclamarem o ceptro de “capital do e-commerce”.
Efectivamente, o comércio electrónico veio proporcionar um valor que, à partida, não estaria no horizonte imediato das grandes empresas que nele apostaram: a liberdade. Isto porque cada cidadão se libertou da pequenez do comércio tradicional de loja, muito por via da própria limitação física do mesmo, e abraçou o mundo inteiro. Em 2014, na revista «Wired», a bíblia da geração cibernética, Chris Anderson criava uma teoria, a da “Cauda Longa”. Profetizava ele que, no futuro, o gráfico que identificava a relação entre consumidores e produtos seria ilustrado por uma curva que jamais tocaria o zero. Isto porque, idealmente, entre os biliões de habitantes do planeta haveria sempre alguém interessado num qualquer produto, jamais se exaurindo a oferta e a procura. Por outras palavras, depois de esgotado o mercado da quantidade, nascia o infinito mercado dos nichos.
O que a aldeia de Añora vem provar é isso mesmo. Entre os seus mil e quinhentos habitantes, quase todos recorrem ao comércio electrónico, encomendando produtos das mais variadas origens geográficas. Uns, mais populares, são pedidos por centenas de añorenos, mas há outros que vêm só para um. Añora já não é só uma curiosidade, é um símbolo da capacidade do homem de se reinventar e de adaptar os seus valores aos novos tempos, sem que eles percam a sua essência.

Pedro Brás Marques