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Humanismo do Carnaval

9 Fevereiro 2016
Humanismo do Carnaval
Opinião
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O Carnaval tem rosto humano. Regulariza o desregularizado ao pôr a máscara todos os dias, uma vez por ano. Há muitos carnavais. Para todos os gostos. O político não precisa de máscara. É o mais desfigurado. É um carnaval aleijão, ao sabor de conveniências ideológicas. O sexy, por excelência, é o do Rio de Janeiro. Veste forma de gente. O mais cavalheiro é o de Veneza. Sem ajuste de contas, entretêm-se nos salões mascarados de elegância e bom comportamento. É um “senhor” Carnaval.
O leque carnavalesco é uma mundividência muito animada, particularmente nos Países de cultura Católica, sempre atentos aos humanismos da História. O Carnaval ajuda o Cristianismo a vigiar o comportamento humano, combatendo os moralismos e materialismos que após o Renascimento, no século XV, se instalaram nas escolas e nas ideias.
O humanismo que hoje respiramos nasce onde nasceu o mundo moderno: a Revolução das Ideias e, de seguida, a Revolução Industrial: o humanismo materialista, o “Homo-Faber”, moldando apenas para produzir; o humanismo mecanicista, o “Homo-Mecanicus”, robot, mergulha no vazio total e nada já o aproxima, nem mesmo o trabalho; o modernismo da cibernética, “Homo-Lazarus” que ainda fede, diria David Bowie. O homem-cadáver, que não se encontra, por isso, não se fez ainda o funeral, nem rezou a missa do sétimo dia. Não. O luto está em aberto, justamente porque está perdido. A ciência da Psicanálise ajuda-nos nesta angústia do medo e da miragem redutora dum tempo efémero, sem valores nem alegrias. A vida de qualquer criatura, seja no plano social, laboral, religioso, é sempre um tempo útil e de “valia carnavalesca”. Quando alguém brinca e deixa por tempos a “seriedade”, esse alguém, é de fronteira humana.
O Carnaval não é uma ilusão. Leva-nos ao interior dum universo onde “somos” o que somos, no que “temos”.

Pe. Bártolo Pereira