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Morreu David Bowie. Viva a arte e a paixão.

22 Janeiro 2016
Morreu David Bowie. Viva a arte e a paixão.
Opinião
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Um fenómeno apaixonante. Um homem e artista invulgar. Camaleão pela capacidade de renovar continuamente a sua imagem foi mestre de uma constante reinvenção ao penetrar na vida, embora esfarpado por ela, musical e tecnologicamente falando. O universo das suas canções em milhares de álbuns não foi o seu sucesso. Um personagem como David Bowie não se derrama em sucessos comerciais. O seu talento de artista, electrónico e clássico, encheu o vazio do seu tempo. Universal no viver, gratuito na oferta e doação da vida, transgressivo e anti-normal, quebrou tabus, desfez ideologias, abraçou ambiguidades e também de convicções vigorosas. Gostaria de ser psicólogo para penetrar no perfil deste artista que viveu como morreu. Agarrado a si e com mensagem actual para todos. O seu legado talvez possa ser entendido no álbum “Reality” de 2003, onde faz ou canta uma reflexão com muitas “misturas”. “Acertei, errei, estou de volta ao começo. Procurei um sentido e não cheguei a nada. Garoto, bem-vindo à realidade.” Só quem chega ao nada encontra a realidade. É o show da vida.
Para melhor penetrar no carácter de Bowie, é necessária uma digressão pela revolução musical do final do século XIX. O grito independentista dos negros que sobe o Mississipi engravata-se ao chegar a Nova Iorque e é o início duma grande rebelião que atinge todo o sistema tonal clássico. Nasce o Jazz. O império das regras das escalas diatónicas e dos modos Maior e Menor são rejeitados. A pouco e pouco, a música clássica dá espaço à chamada música ligeira, aquela que facilmente excita e fica no ouvido e se torna linguagem duma sociedade de consumo. Um novo acontecimento vai parir “polirritmias”. A música Rock – de pedra, originária dos movimentos americanos “Blues” e “Country”, onde a supremacia da bateria é apaixonante e a música Pop – de popular, de origem anglo-saxónica, excita basicamente os instintos e o inconsciente duma forma massificadora.
David Bowie foi um dos mais influentes artistas da música Pop. Levou-a à excelência. Nunca se alugou a modelos. Penetrou ele mesmo no culto de uma cultura popular e o personagem Ziggy (Stardust Tour, 1972) é o “alter-ego” dessa aventura desconcertante que causou medo à arte e paixão do próprio David Bowie que nasceu em janeiro de 1947, em Brixton, bairro do sul de Londres e morreu em janeiro de 2016.

Pe. Bártolo Pereira