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De olhos em bico!

7 Janeiro 2016
De olhos em bico!
Opinião
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Há mais de uma década que o meu Pai me ensinou: “A Ásia vai aos poucos conquistar o mundo. Já tem uma vantagem natural: amanhece mais cedo.” Bem sei que o meu Pai tem sempre razão. Mas agora percebo verdadeiramente o porquê. O Vietname foi o único país que visitei (e já conheço um pouco do Mundo) em que ninguém me pediu uma esmola nem o que quer que fosse. Se existem sem abrigo? Não vi (constroem as próprias casas/cabanas). Se passam dificuldades? A maioria, sim. Todavia, criam o próprio emprego. Aproveitando ao máximo o que a natureza lhes dá e construindo um meio de transporte para os alimentos com apenas um pau, dois cestos e dois elásticos, utilizando os fios do arroz para fazerem vassouras, os vulgares chapéus cónicos e telhados de casas. A população vietnamita merece uma vénia. Tantas vénias.
Ao longo dos dias que lá passei fiz muitas. Não há lugar para subsídios. Existe sempre trabalho e um enorme sorriso no rosto. São 9 milhões só em Hanói e todos trabalham.
Gastei todo o plafond que levei para esta viagem. E voltaria a fazê-lo. Engraxaram-me os sapatos na rua pela primeira vez na minha vida pois senti que, se permitisse que o senhor o fizesse, iria alimentar uma família. Não aceitam dinheiro a troco de nada. Apenas a troco de um produto ou de um serviço. Nem que alugassem tuc-tucs por menos de um dólar.
Regressei ao meu país e posteriormente à minha cidade, pelos quais sou loucamente apaixonada, com a carteira vazia mas com o coração e alma repletos. Para mim, é mais que suficiente. Obrigada Vietname. Uma salva de palmas. Fiquei rendida. Que grande lição de vida. Pensava que tinha como missão ensinar inglês aos mais pequenos, na província de Hà Giang (muito próxima da China), e afinal quem me ensinou alguma coisa foram os Vietnamitas!
Fiz esta viagem há exatamente um ano atrás e, se tivesse essa disponibilidade neste momento, estaria lá de novo. Estive perto de um mês em Hà Giang como professora de Inglês, a dar aulas a meninos entre os 6 e os 12 anos, uma vez que nesta província contam-se pelos dedos os graúdos que dominam o inglês.
O sentimento de missão cumprida e a lágrima que deixei escorrer quando estava no táxi a caminho do aeroporto para regressar a casa são dos pontos emocionais mais intensos da minha vida. E isto não tem preço. Esta viagem representa para mim um dos maiores fundamentos do meu modus vivendi, quando vos referi que a felicidade depende apenas de condições interiores.
Imploro-vos para visitarem o Vietname pelo menos uma vez ao longo desta vida.

Ana Rita Costa