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Assistentes sociais combatem insucesso escolar mas há um para cada 12 mil alunos em Portugal

30 Julho 2021
Assistentes sociais combatem insucesso escolar mas há um para cada 12 mil alunos em Portugal
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Os assistentes sociais queixam-se da instabilidade profissional que os impede de continuar o trabalho de combate ao insucesso escolar e a associação que os representa diz que, nas escolas, há apenas um técnico para cada 12 mil alunos.
A pandemia de Covid-19 veio destacar a importância dos assistentes sociais nas escolas. Numa altura em que o país se confinava, continuaram a ir a casa dos alunos para identificar as suas necessidades e os ajudar a resolver os problemas.
“Quando nem a Comissão de Proteção de Menores (CPCJ) fazia visitas domiciliárias, nós continuámos a ir. No primeiro confinamento não se sabia bem como é que se processavam os contágios, e ficávamos à porta de casa a falar com os miúdos e com os pais”, recordou Ana Filipa Laje, assistente social na Escola de Camarate, concelho de Loures.
As visitas domiciliárias serviam para perceber o que se passava, porque é que não estavam a ir às aulas online, porque é que os pais não atendiam os telefones ou não respondiam aos emails enviados.
Nestas visitas, falava-se também de desemprego e contas por pagar e conseguia-se perceber se os alunos iriam conseguir fazer a próxima refeição.
Ana Laje contou que a maioria das casas já era conhecida e as visitas esperadas, mas também se procuraram novos alunos que, subitamente, se “desligaram” da escola.
A história repetiu-se por todo o país. Fátima Martins, 44 anos, chegou a fazer cerca de 200 quilómetros num só dia para chegar às casas identificadas pelo Agrupamento de Escolas de Arco de Valdevez.
Fátima Martins atravessou várias povoações. Às vezes sozinha, ao volante da carrinha da Câmara Municipal, outras vezes acompanhada, quando o destino era mais perigoso ou a zona estava identificada como não tendo rede de telefone, contou.
Encontrou casas sem computadores, sem Internet e zonas onde não havia cobertura de rede, mas ficou marcada pela aventura da família chegada da Venezuela em pleno confinamento. “Vieram de Caracas diretos para a aldeia do Pedroso. Quando chegaram, o país estava a fechar-se por causa da pandemia e não sabiam o que fazer”, contou.
A história chegou ao seu conhecimento porque a família tinha dois filhos, que passaram agora com sucesso para o 1.º e 9.º anos de escolaridade.
“Vieram quase sem nada. Não tinham trabalho, não tinham rendimentos, nem sabiam como estavam a funcionar as escolas. Arranjámos comida, roupa e trabalho. A mãe já conseguiu um contrato de trabalho e o pai também já está a trabalhar. Penso que, se não tivéssemos aparecido, esta família poderia ter tido um percurso bastante complicado”, disse.
É esta missão de agir antes que os problemas se tornem impossíveis de contornar que é salientada por Irene Fonseca, da Associação de Investigação e Debate em Serviço Social (AIDSS).
“Há um trabalho que é feito para tentar quebrar a pobreza geracional. Os assistentes sociais vão conhecer as razões que motivam um determinado ato e tentam encontrar soluções”, contou.
Quando um aluno se porta mal ou falta às aulas, os assistentes sociais tentam ir à origem do problema, vão a casa dos alunos perceber o que se passa para descobrir como podem ajudar a inverter a situação. Além dos alunos, também as famílias são envolvidas.
“Os miúdos chegam todos os dias à escola com uma mochila, mas uns carregam uma mochila mais pesada do que outros”, disse Andreia Teixeira, assistente social na Povoa de Varzim.