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Família que perdeu vacaria em incêndio reergue-se com ajuda da comunidade da Póvoa de Varzim

23 Julho 2019
Família que perdeu vacaria em incêndio reergue-se com ajuda da comunidade da Póvoa de Varzim
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Na madrugada de 23 de outubro de 2018, a vacaria construída pela família Longarito, na freguesia poveira de Balazar, ficou reduzida a cinzas num incêndio causado por um curto-circuito que, em poucas horas, consumiu a infraestrutura e provocou a morte de quase todos os animais, criados para a produção de leite.
O incidente deixou a exploração de cariz familiar totalmente inoperacional, mas, no imediato, despoletou uma onda solidária entre a comunidade local, que se uniu para, em poucos dias, dar início aos trabalhos de recuperação.
Empresas, agricultores, associações, cooperativas e a população em geral começaram por ajudar nas limpezas, depois na recuperação da infraestrutura e na aquisição de equipamentos para a atividade, e, finalmente, na reposição dos animais.
Almoços solidários, ofertas em géneros ou em dinheiro e apoio em mão-de-obra foram sendo organizados nos últimos meses, juntando pequenos e grandes donativos, que permitiram aos produtores retomarem, recentemente, a atividade, tendo já algumas centenas de animais, a maior parte doados por agricultores da região.
“Não sei onde fui buscar a força, mas tinha de fazer alguma coisa, porque precisávamos de trabalhar. A solidariedade que recebemos, de pessoas que conheço e de outras que talvez nunca vá conhecer, é algo que não consigo explicar. Com tanta ajuda ninguém me deixava desistir”, partilhou o proprietário da exploração, António Longarito.
Sem disfarçar a emoção ao falar do assunto, o agricultor também lembra o lado racional na vontade de retomar a atividade, uma vez que a exploração tinha sido construída com financiamento que ainda não estava liquidado.
“Avançámos com isto há cinco anos, custou-me muito e ainda devo dinheiro [dos empréstimos bancários]. Podia ter acabado, mas ficava sem nada. Tivemos mesmo de arriscar e recomeçar”, partilhou o produtor de leite.
A seu lado, na tarefa de reerguer um projeto de vida que as chamas destruíram em algumas horas está a mulher, Alcina Santos, que fala numa “queda até ao fundo de poço que é preciso recuperar devagarinho”.
“As infraestruturas já estão compostas e, animais, já temos cerca de 90 vacas a produzir, mais 100 novilhas e 50 vitelas a crescer. Não é fácil, mas não é impossível”, partilhou com otimismo Alcina Santos.
“Estão todos no nosso coração, e só posso dizer muito obrigado por terem contribuído com o que podiam. Creio que isto serviu para unir as pessoas, de perceber que ninguém está livre de uma situação destas e que é preciso coragem e força para começar do zero”, disse Alcina Santos.
Os objetivos do casal Longarito, que têm dois filhos em idade escolar, passam por recuperar, em breve, a capacidade produtiva com 500 animais, para poder “pagar os créditos e retomar a normalidade”.
“Temos encargos perante a banca e para o ano temos de voltar a estar numa capacidade de rentabilidade. Não é fácil, sobe-se um degrau e desce-se dois, mas temos de arranjar força, pois se não levantarmos a cabeça ninguém o vai fazer por nós”, disse Alcina Santos.
Para além do trabalho de ambos, as ajudas da comunidade continuam a surgir e enquanto o casal falava com os jornalistas chegou mais uma oferta, de um outro agricultor, com três novas vitelas, num gesto que redobra o alento e a determinação.
“Nada é fácil na vida, há altos e baixos. Hoje, se der vontade, podemos chorar no travesseiro, mas amanhã já temos de estar melhores. É um dia de cada vez até recuperar”, desabafou Alcina Santos.