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Grupo Valerius constrói nova fábrica em Vila do Conde e cria 80 postos de trabalho em Mindelo

18 Abril 2019
Grupo Valerius constrói nova fábrica em Vila do Conde e cria 80 postos de trabalho em Mindelo
Economia
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Cada europeu deita, em média, 25 quilos de roupa ao lixo por ano. Dos 1,1 milhões de toneladas de vestuário que são deitados fora, 430 mil toneladas são peças com qualidade. Números que contrastam com os dos países nórdicos, onde 12 mil toneladas de vestuário são, todos os anos, exportados para África. A pegada ecológica é um dos graves problemas da indústria têxtil e do vestuário, mas, em Portugal, há quem esteja a apostar fortemente nessa área.
O grupo Valerius já investiu 20 milhões de euros na economia circular nos últimos dois anos e está já a construir uma nova fábrica exclusivamente para a área da reciclagem, que deve arrancar em outubro ou novembro de 2019 e criar 80 novos postos de trabalho.
Miklos Pál Nagy é o responsável do projeto Valerius 360º e foi um dos oradores da iTechStyle, uma organização do Citeve que esta semana juntou, no Terminal de Cruzeiros de Leixões, cerca de 800 participantes, incluindo oradores de 20 países, para debater o futuro da indústria têxtil e dos têxteis técnicos em especial.
Miklos Pál Nagy explicou que o processo de reciclagem no grupo Valerius, que arrancou em 2017, visa a produção de malhas e de peças confecionadas a partir de desperdícios durante o processo produtivo, de roupas usadas ou de restos de coleção, peças que reentram no processo produtivo como matéria-prima para nova fiação e nova produção de fios e malhas.
“A escolha é a parte mais crítica e o que fica mais caro, porque tudo tem de ser feito à mão, com a separação por cores, por matérias-primas, por tipo de composição do tecido. Foi muito duro no início”, reconheceu Miklos Pál Nagy.
Mas o grupo Valerius já está preparado para apresentar a primeira coleção completa criada a partir de reciclados. O que deve acontecer em julho, sendo que a fábrica que se vai dedicar exclusivamente a esta área deve arrancar em outubro ou novembro e estar dotada de tecnologia de ponta.
“Não estamos a aproveitar máquinas velhas, é tudo novo. Aquilo que é possível de ser automatizado, será”, garante Miklos Pál Nagy.
“Se existissem mais fábricas como a nossa seria possível reciclar cerca de 25% de toda a roupa que vai atualmente para o lixo”, diz Miklos Pál Nagy. O grande desafio é o preço, porque produzir reciclado “é mais caro”. Para Miklos Pál Nágy é uma questão de “consciência e de educação do consumidor”.
A nova unidade, Valerius 360º, vai empregar 80 pessoas e ficar localizada em Mindelo, Vila do Conde.
“Desde setembro que temos uma equipa focada só no aperfeiçoamento deste processo, que anda a fazer ensaios entre a Alemanha, França e Suíça. Estão a testar quais são as lâminas ideais para as máquinas de triturar, se com ângulo de 90º ou 65º graus. A perceber como vamos montar o sistema de fiação e como vamos fazer a tecelagem – porque um fio reciclado não pode andar à mesma velocidade de um fio tradicional”, explica o presidente do grupo Valerius, José Manuel Vilas Boas Ferreira.
José Manuel Vilas Boas Ferreira tem metas definidas e escaladas no tempo. Em setembro, quer ter já peças recicladas na coleção. E cada ano que passe, espera aumentar em 25% as vendas de reciclados.
“Sabemos perfeitamente o que andamos a fazer. Em 2017, quando começámos o projeto 360, toda a gente dizia que era muito interessante, mas no fundo achava-o meio absurdo. Agora já todos perceberam que este é o caminho e se trata de um projeto disruptivo, que tem de acontecer”, acrescenta José Manuel Vilas Boas Ferreira.
O presidente do grupo Valerius encara o projeto 360 como um legado: “no fim da grande viagem que é este projeto espero deixar um legado – o de ter possibilitado que Portugal passe a ser produtor de matérias-primas para a indústria têxtil”.
A Valerius 360º está a ser desenvolvida em parceria com a Universidade do Minho.