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Deus não vive só

16 Fevereiro 2018
Deus não vive só
Opinião
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Já tudo foi dito sobre Zé Pedro, o guitarrista dos “Xutos e Pontapés”, falecido no último dia do mês de Novembro de 2017. Tudo e por todos. Desde o Presidente da República, a puxar por uma personalidade alegre e socialmente marcante, onde o sorriso e a bondade eram evidentes, até ao mais anónimo dos portugueses que lamentaram a morte do artista. Mas a “peregrinação” de alguém que nos deixa tem entendimentos vários e sempre marcantes.
A fadista e cantora Mafalda Arnauth testemunha a experiência do espírito peregrino que a habita. A vida e o caminho de cada um são sempre uma viagem. Quanto menos nos apegamos das coisas materiais, mais leves ficamos da bagagem que carregamos. A voz, diz a fadista, tem sido um instrumento fantástico no meu percurso. Cantar ajuda-me a ser uma privilegiada no mundo. O guitarrista Zé Pedro peregrinou dentro do seu talento musical sempre que viveu e se ofereceu ao público que, com paixão, o seguiu. A arte leva-nos ao entendimento com as pessoas e com Deus, porque Deus, como as pessoas, não vivem sós. A arte refugia-nos e protege-nos. A arte renova-nos e solidariza-nos.
Zé Pedro foi artista do Rock. O Rock e o Jazz são produtos musicais de entendimentos e relação. Um, o Jazz nasce na rota do Mississipi, rumo a Nova Iorque, onde se engravata e se oferece ao mundo novo. O Rock é originário dos movimentos americanos Blues e Country, onde a supremacia da bataria é dominante e a guitarra se derrama em oferta generosa, sem mercantilismos entre raças, escravos e senhores. Os artistas fazem a sua peregrinação, mas os géneros musicais também. Foi assim que, nos finais do século XIX o Jazz e nos anos cinquenta o Rock, habitaram a arte, proporcionando sentimentos e elevações passionais, de muita intimidade e fantasia. Zé Pedro envolveu-se, de forma sacerdotal, nessa missão de clamores e certezas de conversão.
Morreu, também, em Dezembro de 2017, Johnny Hallyday, que a França sepultou. Dois profetas que encarregaram a sociedade actual de cuidar das suas heranças para que o “humano se humanize” e Deus não viva só.

Pe. Bártolo Pereira