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Ajude-nos a ajudá-lo

21 Junho 2017
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Opinião
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Uma consulta médica, seja ela com o seu médico assistente ou com um médico desconhecido, de rotina ou de urgência, no seu centro de saúde ou na urgência de um hospital, pode sempre ser otimizada se a sua preparação for feita ainda antes de entrar para a consulta.
Pode nunca se ter apercebido, mas é frequente os médicos prepararem a consulta que vão realizar antes de chamar o utente. Por exemplo, o médico poderá consultar diagnósticos, temas de conversa de consultas anteriores, medicação que está prescrita ou a queixa que o utente verbalizou na triagem, no caso de uma ida ao serviço de urgência.
Também o utente pode, e deve, preparar a consulta que vai realizar. Seguidamente, darei alguns exemplos de coisas simples a fazer que permitirão ao utente retirar o máximo partido da consulta.
Se tem algum sintoma ou queixa verbalize-o da forma mais concreta possível. Frases como “sinto-me estranho” são frequentemente ouvidas pelos médicos e embora importantes, pois indicam que algo se passa, na verdade, trazem muito pouca informação. Será sempre mais produtivo dar mais informação, por exemplo “sinto-me estranho, ando mais cansado” ou “sinto-me estranho, tenho dor…”. Na descrição dos seus sintomas seja o mais especifico possível e por muito bizarro que lhe pareça o seu sintoma, expresse-o. Há situações clínicas que cursam com dor em queimadura ou em formigueiro, que causam diminuição ou alteração do paladar, há doenças que “têm cheiros” esquisitos, os exemplos são muitos e podem ajudar o médico a fazer um diagnóstico. Logo, se é o que sente, diga-o sem constrangimentos.
Uma verbalização de um sintoma normalmente leva o médico a colocar questões para explorar esse sintoma. Uma das primeiras a surgir é a questão temporal. Tente pensar há quanto tempo tem esse sintoma, entenda que conceitos de muito e pouco tempo são subjetivos. Tente ser o mais objectivo possível: “tenho esta lesão na pele há uma semana”. Por vezes é útil a relação temporal com acontecimentos: “começou no inverno”; “notei depois do Natal”; “quando aconteceu sei que tinha ido festejar a vitória do campeonato de futebol”. Também será útil relacionar com mudanças na rotina: “tenho esta lesão na pele desde que comecei a trabalhar nesta empresa”; “desde que mudei de detergente da roupa”.
Por muito urgente que lhe pareça alguma intervenção ou por muito estranha que lhe pareça a pergunta que o médico lhe coloca, tente responder. Acredite, se está a ser formulada, provavelmente será importante.
Outra informação importante que será certamente questionada, principalmente se o médico não o conhecer, é o seu histórico de doenças, aquilo que os médicos designam por antecedentes. Deve comunicar ao médico caso tenha doenças crónicas, como por exemplo diabetes ou hipertensão arterial, tenha tido um enfarte do miocárdio ou um acidente vascular cerebral, tenha estado internado, ou outros dados que considere importantes.
O médico que o observa precisará também de saber a medicação que toma de forma crónica. Prestar esta informação é frequentemente mais complexo do que parece à primeira vista. É importante comunicar o nome do fármaco, a dose e a posologia. Se por um lado, com o avanço tecnológico, tornou-se possível obter estas informações das várias aplicações informáticas em uso, por outro lado estas podem estar inoperacionais ou a informação desatualizada. Acontece com mais frequência que o desejável os utentes dizerem: “tomo os brancos para a diabetes e os grandes para a hipertensão”.
Existem ainda os utentes que, de facto, sabem a informação relevante acerca da sua medicação. Contudo, é necessário antecipar os problemas, é frequente em situações de emergência os doentes esquecerem-se dos nomes dos fármacos em uso ou, em situações mais graves, poderão não estar clinicamente com condições de fornecer esta informação.
Assim, é importante que os utentes com medicação crónica se façam sempre acompanhar de informação escrita, atualizada e facilmente acessível. Isto é particularmente importante no caso de utentes polimedicados.
Ainda relativamente a fármacos, é essencial comunicar ao médico caso tenha tido alguma reação alérgica ou efeito adverso com algum medicamento no passado.
Tudo isto, embora possa parecer complicado, é na verdade muito simples. Mantenha a sua informação clínica escrita e atualizada, entregue-a ao médico sempre que se lhe dirija. Os idosos, pelas múltiplas patologias e por serem frequentemente polimedicados, merecem especial atenção. Caso tenha idosos na família ou a seu cargo, despenda uma tarde a organizar um documento com as informações clínicas importantes referidas anteriormente. Além de útil, em caso de uma consulta ou recurso ao serviço de urgência, verá que o idoso vai valorizar esta atenção prestada e sentir-se-á mais seguro.
Concluindo, quando consultar um médico, este estará disponível para o ajudar, mas vamos todos juntos tornar esta ajuda o mais eficaz possível, para que possa tirar o máximo partido da sua consulta. No final, ficamos todos a ganhar se ajudar quem está lá para o ajudar a si.

Cristina Carvalho