Última hora

Crónica de sonho de um sonhador crónico

6 Abril 2017
Crónica de sonho de um sonhador crónico
Opinião
0

Queridos conterrâneos e outros labregos como nós, escrevo-vos para vos contar novidades da cidade. Antes de mais, queria dizer-vos que após investigação exaustiva no Google, concluí que sou (somos) oriundo da única freguesia do mundo que diz no nome que é de um sítio e é de outro. Pois é. Macieira da Maia não é da Maia, é de Vila do Conde. Ora, a mim cheira-me que foi criada por alguém que não queria ser encontrado. Porquê não sei, sei que dá jeito para ter desconto no Jardim Zoológico da Maia e ter acesso às Piscinas.
“É da Maia?”. “Sou sim senhor. Sou de Macieira da Maia”. Eles já têm uma Nogueira, de maneira que ninguém estranha mais uma espécie no pomar. Já vale a pena. Há aqui uns “senões”.
Por exemplo: “O senhor já mentiu em tribunal?” “Sabe meritíssimo, começo sempre por aí. Ainda não acabei de dizer a morada e já estou farto de mentir”. Convenhamos que isto nos pode dar alguma ambiguidade e algum trabalho.
Mas pensando bem, isto de ser único no mundo, é coisa para ser tão importante como fazer a maior manta de renda de bilros. Somos, orgulhosamente, a mentira instituída há mais tempo no nome de uma terra. Nós somos Maia no nome há mais tempo que dura a Feira de Artesanato de Vila do Conde. Parece-me que devíamos telefonar para o Livro dos Recordes.
Entretanto, também vos escrevo para dar conta do entusiasmo que se sente aqui na capital do concelho. Ano de eleições autárquicas. Ele é sorrisos e simpatias por todos os lados. Uma espécie de período natalício. Reina a compreensão e a boa vontade. Fala-se que o antigo pode voltar. Mas já não volta. E volta. E já não volta. E apoia. Já não apoia. E fala-se disso com aquele entusiasmo como se a gente quisesse saber. De rir. Parece que não sabem que nos basta uma junta de freguesia que tenha uma cisterna para nos esvaziar a fossa, já que saneamento e água continua a ser mentira. A poia? Pois claro. A poia. Só precisamos que alguém a limpe. Talvez devamos passar para a Maia. É isso. Não. Para a Maia não. Lá se ia o Guiness.

Sermente in Recorde Por Correspondência