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«Banco? Só confio no do meu jardim»

6 Julho 2016
«Banco? Só confio no do meu jardim»
Opinião
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A descoberta da real utilização do sistema financeiro, onde se inclui naturalmente o bancário, é uma dos factos mais relevantes da História, ainda curta, do século XXI.
Teorias da Conspiração no mundo económico-financeiro sempre houve, desde a eterna “Grande Conspiração Judaica” até à mais moderna “Grupo Bilderberg”, em que se atribui a um grupo discreto de empresários, políticos e banqueiros o controlo do Mundo, sempre a partir da sombra. Infelizmente, a realidade revelou-se bastante menos colorida. O que se encontrou foi algo de básico: ladrões e burlões, Só que estes eram muito mais perspicazes e audazes do que os criminosos comuns, usando descaradamente a melhor estratégia para se esconderem: exibindo-se em todo o lado!…
E foi assim que, ao longo das últimas décadas, os bancos foram usados em proveito próprio e dos amigos, arrastando, para a falência, empresas e, principalmente, muitos honrados e honestos trabalhadores que neles confiaram, aceitando de boa fé propostas de investimento em produtos financeiros com rendimentos milionários “assegurados”, dos quais nada conheciam ou, sequer, percebiam.
Se, em certos países, como os EUA e a Inglaterra, alguns dos “artistas” foram presos, julgados e condenados, única via para rapidamente se restabelecer a confiança da população no sistema bancário, países houve onde tudo se passou de forma inversa. Coincidência, ou talvez não, a verdade é que se registou um certo padrão latino nesta aparente tolerância para com os criminosos. Basta atentar no caso português. O BPN é paradigmático: crédito concedido às cegas, dívidas de milhões, um julgamento iniciado em Dezembro de 2010, terminado em Junho de 2016, com sentença marcada, imagine-se, para Abril de 2017. E não é caso único. O BANIF e o BES nem sequer têm acusação proferida enquanto a Caixa Geral de Depósitos parece ser uma daquelas aves raras que toda a gente quer proteger, apesar de estarem em causa milhares de milhões de euros de prejuízo. Só que de rara não tem nada… O cenário global é aterrador: ainda há uns dias, o Público fazia notícia de que nos principais bancos portugueses (CGD, BCP, BPI, NB, a que faltará somar BPN, BES, BANIF e BPP) haviam sido detectadas “imparidades” (valores de quase impossível recuperação por os activos terem sido alvo de avaliação exagerada), no valor de 25 mil milhões de euros, o que corresponde a cerca de 8% do PIB actual. A população, anestesiada pela magnitude dos números, está desorientada entre o medo das consequências do colapso do sistema bancário e a óbvia falta de confiança na Justiça.
Mas nem sempre foi assim.
Em 1925, Alves dos Reis protagonizou uma burla bancária que atingiu 1% do valor do PIB português de então. Descoberto, foi preso, julgado e condenado a oito anos de prisão, mais doze de degredo. Aguardou julgamento detido, coisa impensável pelo que hoje se vê…
Pois é, há 90 anos tínhamos culpado, um rosto, um nome, Hoje, a burla mudou de denominação, os rostos são poucos e condenados ainda não se viu nenhum. Felizmente, os portugueses são solidários e vão pagar serenamente não só aqueles vinte e cinco mil milhões de euros, como tudo o resto, até porque faltam seis meses para o Natal e os senhores administradores bancários também têm direito ao tradicional bacalhau com batatas…

Pedro Brás Marques