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“Se não tens vida, encosta”

24 Abril 2016
“Se não tens vida, encosta”
Opinião
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Os gemidos proféticos calaram-se. Mário Soares nunca mais encontrou motivos para discordar da política. O reverendo Torgal Ferreira ensurdeceu. Manuel Alegre, visionário, tal como Mário Nogueira, empenhado na instrução nacional, entraram em jejum de palavreado. O Bastonário dos Médicos e mais outros tantos repousam no silêncio das suas conveniências partidárias.
“Se não tens vida, encosta”. É grafite de parede, ali para os lados da linha do metro, mas pretende beliscar António Costa. Os políticos não se livram de todas as críticas, bem ou mal direccionadas e Costa, político experiente, sabe como chegou ao poder. Não foi sufragado por eleições, mas governa o País numa frágil corda, adjudicando-se a uns e inquietando outros. A democracia é um sistema de amplitudes e, no jogo democrático, há políticos que se alugam à conveniência da hipocrisia.
“Somos uns dos outros”, diz o poeta, mas também “pertencemos a nós e a uma humanidade que é de todos”. Mas será que a pertença formal e livre impedirá outras “pertenças”? Será que a opção obriga a exclusão, animosidade ou rejeição? Políticos há que se deixam embalar por inverdades e negócios a jeito. A arte da política, como na religião, só ilumina quando não se elimina. “Somos uns dos outros” se formos capazes de conviver uns com os outros. O pecado social desta geração tropeça neste egotismo partidário que não consegue viver sem partilhar ideias, ou aceitar oposições.
Vêm aí dois feriados de alcance social e agitação ideológica: 25 de Abril, o dia das liberdades e o primeiro de Maio, dia do trabalhador. Portugueses há que vibram com estes ideais, enquanto outros nunca se amarram à paisagem sequiosa dessas lutas. Por falar em feriados, António Costa meteu uma “lança em África” ao repor os feriados anulados pela reforma do anterior governo. Um pingo de governação que nos “enCosta” à parede.