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A derrota do moral

7 Abril 2016
A derrota do moral
Opinião
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Sem moral ou com ele em baixo, ninguém vai ao restaurante. Moral, como neutro masculino, já que o vocábulo abraça teorias, éticas e costumes das mais variadas situações da nossa vida. Pego no tema a propósito duma catástrofe humana enquadrada na primeira guerra mundial. Faz agora cem anos, a efeméride, o “ano de Verdun”. A história deste acontecimento conta-se depressa, o significado é duma grande actualidade e faz parte dos “mitos” que nos sustentam.
Os Alemães quando desencadearam, no mês de Fevereiro de 1916, o ataque ao maciço da fortaleza de Verdun, no rio Meuse, parece ser histórico, tratar-se apenas dum objetivo. Destruir o moral dos tropas francesas lideradas pelo general Pétain. Foi preciso liquidar 600 mil homens nessa batalha para que “o moral”, o brio da França, fosse atingido mortalmente. Talvez, por isso, hoje, os franceses celebram ainda o “ano Verdun”. Foi há cem anos.
Durante a minha passagem pelas forças armadas como Capelão militar, sempre ouvi da boca dos responsáveis e da leitura dos livros de deontologia castrense a frase clássica colocada em todos os canhenhos da guerra psicológica: “é na alma de cada soldado que todas as guerras se ganham ou perdem”. A própria vida se encarrega de dizer sim a este mandamento, pois, laborar é uma batalhada alma.
Morreu quando a primeira guerra mundial nascia, um dos poetas do modernismo português, Mário de Sá-Carneiro, (1890-916). Um poeta de dispersão e angústia. De moral em baixo. Dos seus escritos deixou-nos um lote de palavras que brincam ou violentam a gramática e, por serem soltas, exprimem situações de alma sem ânimo. “Falhei-me entre os mais”, mas “logo me triunfo”. O poeta não foi atingido no assalto de Verdun. Suicidou-se em Paris. Apenas o desejo e nunca o sobejo o contemplou. “Desço-me todo”. “Vou arder-me.” Todos, alguma vez, estamos perto do alcançável, do desejável, do atingível. Mas também todos ardemos por dentro quando “o moral” caie nos mergulha no nevoeiro do niilismo.
Oxalá que 2016 seja o ano da raspadinha para toda a gente.

Pe. Bártolo Pereira