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Mercados e Sistemas arderam na Queima do Judas de Vila do Conde

30 Março 2016
Mercados e Sistemas arderam na Queima do Judas de Vila do Conde
Cultura
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A Queima do Judas deste ano foi no Dia de Vila do Conde, 26 de março, no Mercado Municipal Eng.º Duarte Pacheco.
Pela segunda vez, o dia da Queima do Judas coincidiu com o Dia de Vila do Conde e este foi subtema do espetáculo que, por ser teatral, acabou também por assinalar o Dia Mundial do Teatro (27 de março).
Pedro Correia, director artístico da Queima do Judas de Vila do Conde, defende que “os mercados e as feiras têm uma importância fundamental na construção do tecido social e económico, ao longo da história da humanidade. A prática de venda ambulante na Europa remonta à Idade Média, constituindo uma das primeiras formas de comércio que se manteve, com poucas alterações, até aos nossos dias.”
O artista vilacondense justifica que “pela segunda vez, em 11 edições, o Dia de Vila do Conde coincide com a data da Queima do Judas, que abraça, desde a sua 1.ª edição, a perspetiva de valorização da identidade cultural coletiva da cidade, procurando traduzir as suas raízes e estórias numa linguagem artística contemporânea, elevando a cidade nas suas tradições e memórias”.
A Queima do Judas de 2016 consistiu em várias performances simultâneas, todas com lugar em diferentes palcos no Mercado Municipal Eng.º Duarte Pacheco, em Vila do Conde, e permitiu ao público experimentar vários momentos artísticos.
No final de todas as representações que envolveram tetro, circo, dança e música ao vivo, e de lido o Testamento do Judas, todos levaram o Judas à fogueira, instalada no acesso do Mercado Municipal ao adro da Igreja Matriz de Vila do Conde.
A Queima do Judas 2016 ainda se prolongou pela noite dentro, com a atuação da banda vilacondense Sensible Soccers, em DJ Set.

Testamento do Judas

Como nada tenho eu
Deixo-vos investimentos
Tudo o que tenho de meu
O futuro sem lamentos

Mas não vos fieis de todo
Na ciência financeira
Ou ireis acabar no lodo
Morrer sem eira nem beira

E se não escapares à morte
Com um chuto no traseiro
Talvez vos chegue essa sorte
D’acabar num bom fumeiro

Ao presidente Marcelo
Pra que não venha chorar
Pé de meia e um chinelo
Quando a velhice chegar

Ao Costa o nosso primeiro
Um cigano pró jardim
Porque os sapos e o dinheiro
Engolem-se até ao fim

Finalmente eles voltaram
De Castela encarniçados
Nossos bancos conquistaram
E fomos colonizados

Para África voltemos
Pr’ Angola mais propriamente
A falar os entendemos
Retorno d’antigamente

Tudo é questão de dinheiro
Mesmo até a obra santa
O povinho bem ordeiro
Com mais fervor ele canta

Os rapazes e as meninas
Os novos e os velhinhos
Estão felizes nas Caxinas
Ouvem melhor os sininhos

Para cortar a nortada
Construiu-se um edifício
A igreja assim abrigada
Valeu bem o sacrifício

Ao mercado pra valer
Deixo toda a minha vida
É tão raro alguém nascer
Pra morrer logo em seguida

Santa Clara monumento
Teve a obra abreviada
Sofreu um melhoramento
Já tem a cara lavada

Ao Teatro Municipal
Um grandioso aviário
Pra podermos afinal
Ter o franguinho diário

Tudo era mais amável
Com o frango no espeto
Pessoal mais afável
Mais sorridente e correto

Ao jornal cá da terra
Vou deixar uma gramática
Com tanta asneira qu’encerra
Nossa gente vira apática

À Indaqua um poço vou dar
E também três tesoureiros
Um poço para aumentar
As faturas dos matreiros

A esperança não morreu
A cultura está no ar
Presidenta prometeu
Que a todos ia chegar

Vem de longe para cá
Numa língua mais sambada
Mas vai-se embora para lá
Pouco fica quase nada

Aos voadores associados
Feitos de nuvem e sonho
Deixo abraços apertados
Um futuro mais risonho

Mais um ano passará
Outras chamas vão arder
Para o ano outro virá
Na fogueira se aquecer.