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1.º de dezembro (1580 – 1640)

1 Dezembro 2015
1.º de dezembro (1580 – 1640)
Opinião
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“Esta é a ditosa Pátria minha amada!!!”
Esta é a minha Vila do Conde bairrista e patriota!!!
Nunca como hoje me vem à memória o tempo em que “esta ditosa Pátria minha amada” era louvada e ensinada aos alunos da velha escola primária e transmitido o valor do bairrismo e do patriotismo nacional e que, por ironia do destino, me calhou declamar e explicar, em exame da 4ª classe, o significado desses versos que aqui transcrevo e que a minha memória ainda hoje conserva (São João Baptista deu-me essa graça).

Era assim se bem me lembro / Que os factos eram contados / No primeiro de Dezembro / Os quarenta conjurados. Uma vez morto o traidor / E aprisionada a duquesa /  Restauram por seu amor / A bandeira Portuguesa.  E ao meu olhar de estudante / Parecia e com razão / Que fôra assim num instante / A nossa restauração”.

De entre todas as datas históricas que o país celebrava, sem dúvida, o 1º de dezembro tinha um significado tão especial como de vibração sentida e comovida na alma dos portugueses, não como um ato de provocação ou de desabafo, a quem quer que seja, mas sim à derrota dos usurpadores que no dia 1º de dezembro soube sacudir o jugo em que caíra, com tal ímpeto que não foi possível tornar a submetido, para que continuasse a ser escravo.
Foi esse gemido de liberdade, de independência e de redenção que os nossos políticos atuais ( nem todos), com a desculpa de contenções financeiras, eliminaram, não sabemos até quando, uma data que a abnegação e o patriotismo de 40 fidalgos Portugueses libertaram a Pátria subjugada ao usurpador espanhol.
Pelas 9 horas da radiosa manhã do 1º de dezembro que a liberdade, a independência e a redenção foram devolvidas a este povo oprimido em repressões, ameaças e perseguições, mas que soube, durante sessenta anos, resistir estoicamente àqueles que pensavam que esta Pátria Lusa a eles pertencia.
“Liberdade! Liberdade! Viva El – Rei D. João IV!” Assim gritou um fidalgo à janela do palácio, depois de dominada a guarda invasora que protegia o mesmo.
Um traidor, “ Miguel de Vasconcelos”, único no meio da nossa alma lusa, fôra lançado pela janela e o seu corpo, farrapo de carne maldita, ensanguentado e dilacerado pela raiva dos oprimidos, ainda hoje jaz na memória daqueles que da “lei da morte se vão libertando”, não esquecendo hoje também os “Miguéis de Vasconcelos” que imperam neste país à beira mar plantado e que também, numa manhã airosa, podem acordar dum sonho que afinal mais não foi que um deleitar em banhos cheirosos.
E, se a chama votiva aquece corações e ilumina almas bairristas patriotas, também o fim da tragédia, que chegou na manhã do 1º de dezembro de 1640, há-de chegar um dia a certos recantos deste Portugal, solidário e humanista.
Vivemos numa época em que, por todos os meios, se procura enfraquecer a resistência bairrista e patriota de alguns, muito poucos até, que dão a cara por uma causa, por mais facilmente se lhes imporem sistemas de governação que trazem  no seio a desacreditá-los e a desonrá-los a crueldade contra os fracos, a desumanidade contra os que sofrem, a iniquidade contra a inocência, a guerra acesa contra tudo que constitua a riqueza e o património do nosso bairrismo e patriotismo.
Atravessamos uma época cheia de perigos para tudo o que é bairrista, saturada de precipícios para as terras que, tendo adquirido o gosto da civilização, não querem regressar à selvajaria, nem pactuar com o crime, arvorado em sistema político.
Ficamos à espera de relembrar o 1º de dezembro, para que os portugueses e os vilacondenses em particular não se esqueçam dos valores de outros tempos, desta terra “fidalga, hospitaleira e linda”.

Artur Bonfim