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Humano versus Humanitário

16 Outubro 2015
Humano versus Humanitário
Opinião
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Na crónica anterior abordei o tema do fenómeno humano da emigração. Há, contudo, uma nuance entre o humano e o humanitário. Assistimos a êxodo migratório de proporções e consequências idênticas às ondulações humanas dos exílios bíblicos. O homem da Bíblia é emigrante por natureza. Situado na terra, move-se para além dessa terra porque percebe que ela não lhe pertence (Dr. João Alberto Correia).
Actualmente assistimos a um turbilhão de gentes que apressadamente fogem das guerras e “reclamam” piedosamente auxílio humanitário num qualquer lugar da Europa. Os políticos levam tempo a decidir. São cautelosos? São políticos e o cargo que exercem pede-lhes tempo, a fim de procurar soluções correctas e justas.
Os cenários de catástrofe humanitária não obedecem a menus. Exigem decisão corajosa, mesmo atropelando legalidades éticas da comunidade. Penso que a Europa, neste quadro actual de grande aflição, tem sentido suficientemente humanitário, como já o demonstrou noutras ocasiões, enfrentando, uma vez mais, o pecado que é de todos.
A literatura do Nobel de 2008, J.M. Le Clézio, é um hino ao mundo sustentável em que habitamos. Aceitar, diz o Nobel, o cruzamento de raízes e rotas não é mero acaso biográfico de pessoas. Nascido nas margens do Mediterrâneo, Le Clézio é filho duma aventura, não como um turista à procura de um exotismo digestivo, mas um nómada em busca de sentidos e convivências (in “Brotéria” – 167). Infelizmente estamos perante um mundo ao contrário do pensamento encantador do Nobel da literatura. Parte do mundo actual está nas mãos de alguns monstros que, decididamente, impedem que o registo biográfico da pessoa seja agarrado à terra que a viu nascer e onde deseja semear e colher a sua própria existência.

Pe Bártolo Pereira