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Vila do Conde

11 Setembro 2015
Vila do Conde
Opinião
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Tenho a feliz sorte, até pela minha vida profissional de aferidor de pesos e medidas da Câmara Municipal de Vila do Conde, de percorrer o nosso concelho e deparar-me amiúde com caminhantes para Santiago de Compostela, com turistas e forasteiros, que passam e visitam esta nossa “terra fidalga, hospitaleira e linda”.
Ao servir de modesto interlocutor de tanta gente com que me vou cruzando, tenho apreciado ao longo destes anos e nestes últimos em particular, das agradáveis referências que fazem a Vila do Conde e da vontade de voltar um dia, lembrando-me do velho lema de “quem passa por Alcobaça, não passa sem lá voltar”.
Não é só o meu bairrismo a falar mais alto, é a constatação cada vez maior duma realidade de tanta gente que fala e visita esta nossa Princesa do Ave.
E porque recordar é viver, deixo aqui uma simpática referência em comparação a outras terras, publicada há quase um século atrás em “O Minho Pitoresco”.
Sangue azul nas veias e saudosas recordações no espírito; delicada, artística, devota; os grandes monumentos atestando a sua genealogia fidalga; o Ave, o querido e belo companheiro que a viu nascer e crescer em formusura, lamentando, na música gentil das suas cascatas deliciosas, o não poder bordar com pérolas e safiras, como outróra, a fimbria do vestido dessa patrícia elegante!
Foi ele até, se não foi o Mar, quem lhe ensinou, como passatempo adorável, aprendido nos arasbescos fantasiados pelas ondas nas suas rochas núas da praia, o segrêdo das rendas afamadas que hoje as vilacondenses fabricam nas grandes almofadas de bilros.
Religiosa, além de artista, e com todos os dôces atrativos das místicas esposas de Jesus, o mais doce dos quais (pede-se licença para o trocadilho) é exatamente o de fazer doce, capaz de tentar um Santo.
De modo que, apenas a dois kilómetros de distância, fácilmente vencidos pela caminheta, o viajante cumprimenta a Póvoa gentil e estroina, como uma companheira de boémia e quase se descobre respeitoso perante o aspecto senhoril desta Vila do Conde aristocrática, como o faria diante de uma Senhora distinta, organização franzina e delicada, cujo encontro fizesse por acaso em um passeio de campo, ou na solitária nave de um templo.
A Póvoa tem; pois, o sangue vermelho da burguesia; Vila do Conde o sangue azul das genealogias de vieille roche; a primeira é capaz de preparar e comer comnosco uma saborosa caldeirada de peixe fresco, a segunda oferecer-nos há para lunch um pastelinho do Convento e um cálice de licor de rosa.
A origem das duas explica a sua diferença actual; nada como as causas primárias, como os assuntos tratados ab initio, para fazer compreender estes fenómenos quase metafísicos, em que ninguém repara, afinal”.
Bons passeios pela monumentalidade de Vila do Conde, recomendando uma pausa à mesa, para que apreciem a nossa requintada e recomendada gastronomia.

 Artur Bonfim