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250 Anos do nascimento de Bocage

23 Setembro 2015
250 Anos do nascimento de Bocage
Opinião
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Poeta da Liberdade: “Mãe de todos os prazeres”.

O percurso literário de Bocage é de excelência. A história da literatura portuguesa encosta-o aos notáveis como Camões e Pessoa. Foi um escritor de transição e conflito, vivendo num “cotovelo da história” de profundas tendências ideológicas e estéticas, obrigando-o a saltar em ritmo acelerado entre o Absolutismo e o Liberalismo, entre fidelidades ao Classicismo e há frescura do Romantismo nascente. (in “Historia da Literatura Portuguesa”, António José Barreiros).

Nesta homenagem dos 250 anos do seu nascimento (15 de setembro de 1765) encanta-me e, por isso, quero realçar o seu perfil amoroso e boémio. O drama do poeta Sadino, cantor da “Liberdade, Mãe dos Prazeres”, é o lance trágico duma ondulação de ideias, convicções, comportamentos que nunca se abraçaram. Dentro de Manuel Maria du Bocage vivia um homem que fez caminhada divertida e boémia na fruição da liberdade de muitas paixões. Sofreu o revés duma dependência egotista; o medo patológico de todos os “locus horrendus” onde, por fim, se instala a morte; não acompanhou o corpo que, com a idade, vai comendo a estrutura do “Ego”, impedindo, desse modo, de vigiar “tantas mulheres como as que cantou”. Foram muitas. Umas roubadas por amigos; outras mortas em flor, de tuberculosa; outras ainda; “ingratas, cruéis e desdenhosas”. Quase todas fingidas, expecto o primeiro amor, Gertrúlia, moça de Setúbal e Márcia, a ultima que, desinteressadamente o consolou quando já era um farrapo desfeito pela doença.
Também dentro de Bocage viveu um homem tripartido: o “ Sentenciado” pela polícia do Intendente Pina Manique que o prendeu por escritos ímpios; o “Doutrinado” no mosteiro de S. Bento, submisso aos encargos de irmandade dos padres Oratorianos. Mas, como nem uma coisa nem outra criou ao poeta de Setúbal hábitos de curvatura da espinha, Bocage, ontem como hoje, nunca foi um “Domesticado”, (Professor H. Cidade). Mestre nas letras; atualíssimo, contemporâneo na escolha das desordens; possuidor duma rebeldia necessária, 250 anos após ter nascido.

Pe Bártolo Pereira