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200 Anos de D. Bosco

2 Setembro 2015
200 Anos de D. Bosco
Opinião
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O património cultural e artístico de Vila do Conde está pronto e inventariado por historiadores competentes. É verdade, diz o Dr. Pacheco Neves, uns completam os outros na cadeia do conhecimento ao publicarem as suas obras. O que parece ainda incompleto é o estudo e publicitação dum certo património humano que, evidentemente, Vila do Conde também possui. Não me refiro aos notáveis, naturais ou passantes, mas a gente escondida na simplicidade e com pouca exposição às letras e às artes.
Festejamos este ano o bicentenário dum eminente pedagogo que enfrentou os desafios do século XIX com respostas certeiras no campo da cultura e da religião, S. João Bosco. Uma mão cheia de padres salesianos deixou um rasto luminoso à frente das Escolas Profissionais desta cidade. Uma mais-valia que Vila do Conde ainda não prestou a devida homenagem. É este património humano, sublinho, escondido em gente simples, mas teima não deixar cair o legado conventual de Clarisse e Salesianos.
O romance “Terra Sonâmbula” (1992) de Mia Couto é uma apaixonada viagem com pessoas e circunstâncias que representam o encontro entre gerações e os conflitos culturais daí resultantes. Um livro que retrata a terra e o sonho, o concreto e a evasão. O autor deste romance convida-nos a adentrar e abraçar sonhos, ensinamentos, etapas e tempos, onde uns nascem dos outros e, desse modo, “novos homens são paridos numa contínua reiniciação”. Este jogo literário aplica-se com justeza histórica ao espaço conventual e heranças de Santa Clara, fadado para inquilinos passantes, ao longo dos séculos.
O Oratório Salesiano de Santa Clara deixou uma energia espiritual e cultural em milhares de jovens, soltando-os para a vida, a tempo de hoje responderem profissionalmente nas mais variadas ocupações. “Soltar-se do tempo, a tempo”. Volto ao pensamento de Mia Couto, para que a memória de gente simples não se apague com o tempo.

Pe. Bártolo Pereira