Última hora

Portugal leva artesanato tradicional à 4.ª edição da Bienal de Mains de Maîtres no Luxemburgo

9 Outubro 2023
Portugal leva artesanato tradicional à 4.ª edição da Bienal de Mains de Maîtres no Luxemburgo
Cultura
0

Portugal é o país convidado da 4.ª edição da Bienal de Mains de Maîtres, que decorre de 23 a 26 de novembro no Luxemburgo, onde se fará representar com uma exposição de artesanato, com 60 peças de 54 artesãos.
Subordinada ao tema “O gesto e o território, a Bienal de Mains de Maître”, a exposição “Produção artesanal portuguesa: a atualidade do saber-fazer ancestral” foi apresentada publicamente, em Lisboa.
O projeto curatorial é da responsabilidade da Direção-Geral das Artes (DGArtes), através do Programa Nacional Saber Fazer Portugal, e “cumpre o objetivo do Governo, de internacionalização da cultura e construção da marca internacional Portugal”, disse o diretor-geral das Artes, Américo Rodrigues.
Posteriormente, a exposição virá para Portugal, onde correrá o país, adiantou o responsável, acrescentando que o objetivo da mostra é promover o artesanato como uma “atividade contemporânea e atual, inovadora por si só, que se reinventa e está em permanente transformação”.
A mostra, que ocupará uma área expositiva de cerca de 460 metros quadrados, com a apresentação de cerca de 60 peças de 54 artesãos e pequenas unidades nacionais de produção, é um exemplo da atualidade e relevância para a sociedade contemporânea da produção artesanal apoiada em conhecimentos ancestrais, “num investimento de 150 mil euros”, acrescentou.
Segundo Américo Rodrigues, esta é também uma oportunidade para estimular a “pedagogia do consumo responsável e com menos impacto para o planeta”.
A relevância da exposição pode ser entendida em quatro eixos: sentido quotidiano, respeito pela paisagem, valor cultural e resiliência económica.
A mostra ocupará duas salas e uma área de transição, disse Ana Botas, uma das curadoras, especificando que a primeira sala será dividida em “quatro áreas temáticas para retratar quatro características artesanais”.
Uma área é destinada ao “simbólico”, objetos que contêm dimensões afetivas ou de relação com o coletivo, como é o caso das máscaras portuguesas.
Outro núcleo expositivo é dedicado à “inteligência material”, peças que têm origem na satisfação de necessidades próprias de um contexto marcadamente rural e que ainda hoje representam soluções para o dia-a-dia, como mobiliário, objetos para confecionar e servir alimentos, bilhas para guardar água ou talhas para armazenamento de vinho, entre outras.
Uma outra secção dessa sala vai destinar-se à “minucia técnica”, ou seja, todo o trabalho mais detalhado, como é o caso, por exemplo, das rendas de bilros, das colheres de madeira “bordadas” (arte conhecida como pastoril), ou do empedrado da olaria de Nisa.
A outra área expositiva, subordinada ao tema “abrigo”, é dedicada às artes ligadas ao que cobre o corpo e o ambiente da casa, e apresentará peças como croças (capas feitas com diferentes camadas de junco, tecido e torcido), mantas de lã (usadas em várias regiões como capas de pastores), a colcha de Castelo Branco, ou o chapéu de palha de dragoeiro em espiral cosida, dos Açores.
A zona de transição vai “evocar a paisagem”, apresentando algumas das matérias-primas mais utilizadas – caso da cana, da cortiça, do vime, do linho, da lã ou da argila, por exemplo -, em que os visitantes poderão “tocar e cheirar”, acrescentou a curadora.
A segunda sala, destinada ao “saber fazer”, será composta por seis oficinas, nas quais o público poderá experimentar técnicas: Bordado de Castelo Branco (pelo Centro de Interpretação do Bordado); Cestaria em bunho (com Manuel Ferreira); Cestaria em cana (com Domingos Vaz); Cestaria em vime (com Alcídio Andrade); Empreita de Palma (com Maria João Gomes, das Palmas Douradas); e Rendas de bilros (pela Associação para Defesa do Artesanato e Património de Vila do Conde).
Américo Rodrigues adiantou ainda que “a exposição foi pensada para itinerar depois em Portugal”, onde será apresentada em diferentes regiões “enriquecida com contributos locais”.
Antes da inauguração da bienal, no dia 21 de novembro, haverá uma sessão de pré-abertura com um concerto da artista Ana Lua Caiano.
O comissário-geral da exposição, Jean-Marc Dimanche, também presente na apresentação, foi o responsável pela escolha do tema – “O gesto e o território” – para celebrar o gesto e o espírito, mas sobretudo para questionar os criadores sobre a noção de identidade artística, de património cultural ligado à história de cada país.
Para a secretária de Estado da Cultura, Isabel Cordeiro, esta participação, pela primeira vez, de Portugal como convidado de honra da bienal, “destaca-se como um momento único na afirmação internacional da tradição artística portuguesa”.
“Esperamos que a exposição notabilize o nosso artesanato e os artesãos envolvidos”, disse, destacando a “maior pertinência [da mostra], pela vasta comunidade portuguesa” residente no Luxemburgo.
“Gostaríamos que para eles se revelasse como um renovado orgulho do seu país”.
O programa Saber Fazer apresenta as várias medidas para a salvaguarda, o reconhecimento e o desenvolvimento sustentável do setor das artes e ofícios tradicionais, como forma de afirmação da marca identitária dos territórios e do país.
O programa tem aplicação prevista entre 2022 e 2025 e conta com financiamento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).