Milhares no Dia da Diocese do Porto antecipam Jornada Mundial da Juventude com missa e festa

Cultura

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Um “Obrigado Portugal” poliglota é a frase que mais se ouve no Parque da Cidade do Porto onde, hoje, uma missa e vários momentos musicais marcam do Dia da Diocese, iniciativa que antecipa a Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
António Ferreira (71 anos) e Alice Magalhães (70) perderam de vista “as meninas simpáticas” da Croácia que desde quarta feira estão a viver em sua casa, em Guifões, no concelho de Matosinhos, mas sabem que “elas estão bem porque são desenrascadas e, precisando de algo, qualquer pessoa as ajuda logo”.
Chegaram ao Parque da Cidade do Porto de banco de plástico na mão, faltava ainda uma hora para a missa que juntou milhares de pessoas. Não ficam para a tarde, porque “há que preparar o cozido à portuguesa do almoço de amanhã [domingo] antes que as meninas da Croácia” partam para Lisboa onde vão participar na Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
“Isto é incrível. Chama-se Jornada da Juventude, mas é para todas as idades, todos os credos, todas as nações”, disse António Ferreira, enquanto admirava as bandeiras e tentava entender a frase escrita na t-shirt do grupo que se preparava para “estacionar” à sua frente no chão ainda molhado pela chuva que caiu de noite, mas que não desmotivou os peregrinos.
A frase era: “Move Your Heart” ou, em português, “Move o teu coração”. É uma das muitas frases e mensagens que marcam o cenário de cores de todo o mundo no recinto.
Outra é “How can I help You?” [Como posso ajudar?] envergada por dezenas de voluntários que circulam entre as pessoas de camisola cor de laranja e um “enorme sorriso nos lábios”, como descreveram Teresa Downis e Angela Nisbitt, ambas de Trinidade e Tobago, ilhas que ficam perto da Venezuela e que as suas famílias acolhedoras nem conheciam, tal como estes peregrinos não sabiam onde era Louredo, mas agora chamam a esta freguesia de Paredes a sua “segunda casa”.
“Os portugueses são inspiradores, simpáticos… Estamos muito bem”, disse Teresa Downis, enquanto encaminhava o grupo de 35 pessoas até quase à frente do palco.
“Estamos muito bem posicionados aqui, graças a um senhor de Louredo que veio de madrugada de carro cá guardar lugar para nós. Não temos palavras”, contou Angela Nisbitt, cujo grande objetivo desta estada em Portugal é, confessou, conhecer Fátima e ver o Papa Francisco em Lisboa. O grande objetivo no futuro passou a ser, confessou: “Voltar a Portugal. Voltar a Louredo”.
São cerca de 16.000, de 61 países, os peregrinos que a Diocese do Porto acolheu em antecipação à Jornada Mundial da Juventude (JMJ) que tem início na próxima terça feira em Lisboa.
Antes do início da eucaristia, que durou cerca de duas horas e que contou com um coro de 400 vozes acompanhado pela Banda do Exército, foram enumerados, país a país, as nacionalidades presentes, entre palmas e gritos em ambiente informal, quase ao jeito da “onda” que é comum ver nos estádios de futebol.
E voltaram a ouvir-se palmas quando o bispo Manuel Linda pediu aos presentes durante a homilia que, “na Jornada Mundial da Juventude (JMJ), sejam ‘influencers’ de Jesus Cristo e, no regresso a casa, embaixadores de Portugal”.
“Quando regressardes às vossas terras e pátrias, dizei que lá, na cabeça da Europa, existe um país simpático e acolhedor, de nome Portugal. Os que são portugueses, estão dispensados disto. E contai a todos o que aqui aconteceu, como Jesus o fez. Sede contadores da história destas Jornadas. E de parábolas para o tempo de hoje. Tal como as de Jesus. Como o Papa, peço-te: ‘Jovem, levanta-te. Sonha e arrisca’. Jesus conta contigo! Como contou com a Beata Maria do Divino Coração”, pediu Manuel Linda.
Hoje, no Parque da Cidade do Porto, além da missa, que conta com 44 bispos, 1.000 padres e 90 diáconos, há música e convívio, uma espécie de um festival cultural e musical que Leoton Siloune e Barthelemy Venes garantem que não vão perder.
Os dois jovens franceses de 16 anos, que chegaram a Portugal há uma semana e foram acolhidos em Amarante, estão “deslumbrados” com as paisagens e com o tempo. Às visitas culturais, têm adicionado idas à praia para nadar.
“Decidimos vir à Jornada Mundial da Juventude (JMJ) porque somos crentes e porque acreditamos na força de rezar em comunidade. Mas aproveitamos para conhecer pessoas e para passear”, disse Leoton Siloune. O jovem de Toulouse apresenta-se com uma bandeira do Brasil às costas, mas podia ser a da Polónia se o tivessemos encontrado uma hora antes.
“Chegámos com a da França e já vamos na quinta bandeira. O objetivo é trocar entre todos os países. Não é para colecionar. É para trocar, conviver. Também tivemos já a de Portugal”, explicou Barthelemy Venes, atento ao que se vai passado no recinto onde bandas e filarmónicas, conjuntos de bombos, fanfarras e ranchos folclóricos prometem animar a tarde.
Também Luísa e Tó Marques trouxeram a filha Clara, de dois anos, e uma “parafernália” de coisas, desde manta a guarda-sol para passar a tarde junto de outras famílias. Querem que “a menina conviva com a diversidade cultural” e, já que “seria muito cansativo ir com uma bebé para Lisboa tantos dias”, escolheram o Porto para “viver pelo menos um bocadinho da Jornada Mundial da Juventude (JMJ)”.
“Eu estive em Madrid em 2011 e nem tenho palavras para descrever o que é isto”, disse Luísa, enquanto ajeita as tralhas e vai tirando ‘snacks’ da carteira para dar à filha. “Isto é mais para ela, que é pequena. Nós vamos comer por aqui. Aqui há de tudo e não falta nada”, acrescentou.
Está previsto que o Dia da Diocese do Porto – uma iniciativa que, tal como outras por todas as dioceses do país, tem como objetivo proporcionar o contacto de milhares de peregrinos de todo o mundo com a cultura, as tradições, a religiosidade de Portugal – termine com o concerto da Áurea e uma projeção audiovisual.
A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) nasceu por iniciativa do Papa João Paulo II, após um encontro promovido em 1985, em Roma, no Ano Internacional da Juventude.
Este ano, a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), considerada o maior acontecimento da Igreja Católica, decorre em Lisboa de dia 1 a 6 de agosto, sendo esperadas cerca de 1,5 milhões de pessoas.
A primeira edição aconteceu em 1986, em Roma, tendo já passado por Buenos Aires (1987), Santiago de Compostela (1989), Czestochowa (1991), Denver (1993), Manila (1995), Paris (1997), Roma (2000), Toronto (2002), Colónia (2005), Sidney (2008), Madrid (2011), Rio de Janeiro (2013), Cracóvia (2016) e Panamá (2019).