A antiga selecionadora nacional feminina e atual diretora da Federação Portuguesa de Futebol Mónica Jorge disse que “no futebol não pode haver espaço nem tolerância para o assédio”.
“Tanto a Federação Portuguesa de Futebol, como eu, mulher, mãe e figura de uma modalidade, iremos sempre defender e proteger a atleta em todas as ocasiões, muito mais se o contexto for de abuso. No futebol não pode haver espaço nem tolerância para o assédio”, afirmou Mónica Jorge.
O assunto voltou à ordem do dia após várias futebolistas que alinharam no Rio Ave em 2020/21 terem denunciado ações de assédio sexual do então técnico do clube de Vila do Conde Miguel Afonso, que atualmente era treinador do Famalicão, tendo também o diretor desportivo Samuel Costa sido alvo de um processo disciplinar.
A dirigente federativa, que ocupa esta posição à frente do futebol feminino há uma década, depois de deixar de ser selecionadora, lembra-se de “algumas vítimas” que “só muito mais tarde tiveram coragem para desabafar”.
O medo e falta de informação, comentou, são limitadores de uma ação das vítimas, mas hoje em dia, referiu, “é mais fácil denunciar, graças às plataformas existentes”, entre elas um canal dedicado da Federação Portuguesa de Futebol.
“O medo começa a desvanecer-se lentamente e entra a ação. (…) É fundamental o suporte e o apoio permanente a todas as vítimas ou denunciantes. É uma plataforma que respeita o anonimato, protegendo quem denuncia e garantindo a segurança do mesmo”, explicou.
Ainda assim, alertou, “uma plataforma não chega”, incentivando todos os clubes e federações, mais “escolas, faculdades e outras entidades públicas” a terem mecanismos próprios de denúncia.
Assim, e ao contrário do que temem outras figuras do desporto nacional, quanto ao abandono jovem por receio deste tipo de casos, seja por vontade própria ou dos pais, é da opinião de que até pode acontecer “pelo contrário”.
“Este movimento mostra que já não há medo e que o mesmo já não vai mais prejudicar quem gosta de jogar de futebol. Todos os agentes desportivos e as suas entidades estão cada vez mais sensibilizados para este tipo de problema”, notou.
Enfrentar este fenómeno “tem de começar dentro de casa, com uma comunicação fácil, frontal e aberta por parte de familiares com os filhos”, preparando-os, deixando o apelo para que treinadores, dirigentes, professores e pais possam ter este diálogo e estejam “sempre atentos aos sinais”.
“Especialmente mudanças comportamentais, alterações no rendimento escolar, alterações emocionais e eventuais situações de isolamento”, lembrou Mónica Jorge.