A associação ambientalista Pé Ante Pé (APAP) mostrou-se “muito preocupada” com os efeitos da seca na Paisagem Protegida de Vila do Conde, que engloba a Reserva Ornitológica de Mindelo (ROM), alertando para as consequências já visíveis no ecossistema.
“É uma zona conhecida pela importância da sua ornitologia, mas que, hoje em dia, tem uma grande relevância, a nível nacional, no âmbito dos anfíbios, pois tem condições únicas para a formação de charcos temporários. Nestas condições de seca, há muita preocupação com populações de anfíbios que já estão a ser afetadas”, afirmou Pedro Andrade, biólogo e elemento da associação ambientalista Pé Ante Pé (APAP).
O também investigador partilhou que nas suas visitas de campo realizadas em dezembro e janeiro ainda eram visíveis muitas populações de larvas de salamandra e outros anfíbios nos charcos, mas que numa visita feita há algumas semanas “os mesmos charcos estavam secos e as espécies que lá habitavam terão sido dizimadas”.
“No local em Portugal que, provavelmente, terá o maior impacto para a conservação deste grupo de espécies, estar nestas condições é muito preocupante. Os anfíbios são predadores e presas na cadeia alimentar, e tudo isto tem um efeito dominó em todo o ecossistema”, vincou Pedro Andrade.
Sobre os efeitos da seca no estuário do rio Ave, que tem um importante papel nas rotas das aves migratórias, o biólogo disse ainda não haver dados suficientes para avaliar a real dimensão dos efeitos da seca, mas considerou que pode ser também uma “preocupação e a médio prazo”.
“Esta situação de seca pode proporcionar algumas diferenças no nível de salinidade e dos nutrientes que estão a ser absorvidos pelo sistema em si. Havendo um menor fluxo de água vindo do rio Ave, pode ter impacto em toda a dinâmica do ecossistema”, disse o elemento da associação ambientalista Pé Ante Pé (APAP).
Pedro Andrade lembra que os problemas causados pelo aquecimento global são já visíveis a curto prazo, e que vão ser sentidos pelas presentes gerações, e não apenas pelas vindouras, lembrando que as transformações no clima “estão a acontecer, com contornos maiores e mais rápidos, nas últimas quatro décadas”.
“Temos de continuar a aumentar a consciencialização sobre estes temas, tanto na sociedade como entre os decisores políticos. As mudanças positivas demoram muito tempo, mas são fundamentais”, apelou o biólogo.
Nesse sentido, a associação ambientalista Pé Ante Pé (APAP), que foi fundada em 2015, no âmbito da conservação da natureza e educação ambiental, garante que continuará a “alertar e intervir nestas questões com um contacto constantes com a sociedade, políticos, e sobretudo com investigação, sessões de educação ambiental nas escolas, ações de limpeza e promoção da fauna e flora autóctone”.