A fabricante de ‘software’ de gestão da produção Critical Manufacturing, da Maia, prevê faturar mais de 50 milhões de euros este ano e manter um ritmo anual de crescimento de 60%, impulsionada pelos setores dos semicondutores e dispositivos médicos.
Em entrevista, o cofundador e presidente executivo (CEO) da Critical Manufacturing adiantou que as previsões de crescimento do volume de negócios nos próximos anos são na ordem dos 60%, sendo que, após a subida de 65% já registada em 2021 (de 19,96 para mais de 33 milhões de euros), o objetivo para 2022 é atingir os 52 a 53 milhões de euros.
Segundo Francisco Almada Lobo, este “fenómeno de hipercrescimento” é “para manter” nos próximos exercícios, já que a empresa – fundada em 2009 por um conjunto de ex-quadros da falida Qimonda – fornece “indústrias tecnológicas em áreas de grande crescimento, como os semicondutores e os dispositivos médicos”.
De acordo com o CEO, após um primeiro choque inicial, que durou “um ou dois trimestres”, a pandemia veio acelerar o crescimento do negócio.
“Houve uma reação muito positiva, porque as empresas perceberam que o investimento nas tecnologias e em processos de digitalização iria ajudá-las, sobretudo em contexto de pandemia, em que era mais difícil prever a procura e o impacto na cadeia de abastecimento de materiais e em que era necessário trabalhar com menos pessoas dentro da fábrica e, portanto, com sistemas mais automáticos”, explicou.
“Essa reação” – acrescentou – “permitiu que já em 2020 houvesse um crescimento que, depois, veio materializar-se de forma muito sustentada em 2021, sendo as perspetivas de continuidade desse ritmo”.
Para sustentar este nível de crescimento, a Critical Manufacturing – sediada no Tecmaia e que emprega atualmente 300 colaboradores – pretende recrutar mais 200 trabalhadores este ano, sobretudo nas áreas da engenharia informática e de gestão industrial.
Também previsto está um investimento de dois milhões de euros na ampliação de 2.500 para 3.700 metros quadrados das instalações da empresa no Tecmaia, onde pretende apostar em “muito mais espaços de equipa, de colaboração informais e sistemas de videoconferência avançado em todas as salas”.
Segundo avançou, as obras deverão começar no segundo trimestre deste ano e acabar antes do final do terceiro trimestre.
Desde 2018 detida a mais de 90% por uma multinacional de ‘hardware’ sediada em Singapura e cotada na bolsa de Hong Kong ASM, a Critical Manufacturing concebe e fabrica produtos de ‘software’ de gestão da produção, automação e ‘analytics’ para indústrias tecnológicas avançadas.
Atualmente, a empresa exporta 98 a 99% da produção, sobretudo para a China e Taiwan, Alemanha, Norte da Europa, Reino Unido, EUA, Malásia e Singapura, tendo como clientes multinacionais como a Infineon, OSRAM, Philips, Vishay, B. Braun e TDK, com as quais está a desenvolver mais de 50 projetos.
Conforme explicou Francisco Almada Lobo, é da Critical Manufacturing que sai o ‘software’ para a produção de muitos dos dispositivos médicos mundiais atualmente no mercado.
“A indústria de dispositivos médicos está dentro dos nossos segmentos principais. É uma indústria altamente regulada (pela FDA, nos Estados Unidos, e pela Agência Europeia do Medicamento, na Europa), mas ainda com muitos processos em papel e com muitas empresas ainda numa fase inicial no que toca à transformação digital”, explicou.
Numa altura em que os custos com os produtos de saúde estão a aumentar a nível global e se tem acentuado a necessidade de ter fábricas mais modernas e eficientes, a Critical Manufacturing tem vindo a adaptar os seus produtos às particularidades desta indústria e à sua complexidade, com vista a obter uma melhoria dos processos, menor erro humano, rastreabilidade dos processos e da documentação e histórico eletrónico do dispositivo, entre outros.
De acordo com o empresário, atualmente são clientes da tecnológica da Maia “alguns dos maiores produtores de dispositivos médicos a nível mundial”, como a B. Braun, a Ultradent, a Elekta ou a Jabil.
“Como são empresas gigantes e com ‘portfolios’ de produtos muito diversificados, o nosso MES [Manufacturing Execution System] não está presente em todas as unidades de produção dessas marcas. No entanto, temos, por exemplo, um projeto com a B. Braun para 45 fábricas que produzem produtos como seringas, cateteres, produtos metálicos (tesouras, instrumentos para dentistas) e dispositivos para controlo da diabetes como bombas de infusão de insulina”, avançou.
O objetivo deste projeto, salientou, é “standardizar os processos de fabrico da B. Braun, digitalizar as fábricas, cumprir os requisitos regulatórios e melhorar a qualidade dos produtos”.
Também com a B. Braun, a Critical Manufacturing tem em curso “um projeto paralelo de uma nova fábrica completamente automatizada”.
Ainda na área dos dispositivos médicos, a Critical Manufacturing trabalhou com a Jabil a criação, em três meses, de uma linha de produção para testes rápidos para deteção da Covid-19, tendo muitos dos testes que atualmente existem no mercado sido produzidos sob a supervisão do MES da empresa da Maia.
Outros projetos que a Critical Manufacturing tem curso na área médica são com a Ultradent, empresa que fornece produtos para dentistas (desde pastas de dentes a aparelhos dentários ou seringas), e com a produtora de máquinas para tratamentos de radioterapia e radiocirurgia Elekta.
“Temos clientes em áreas variadas dentro dos dispositivos médicos”, concluiu Francisco Almada Lobo, enfatizando como o ‘software’ produzido na Maia “pode ter, assim, um grande impacto na vida do utilizador final”.