Investigadores do Instituto da Universidade do Porto (ISPUP) vão desenvolver um projeto no estabelecimento prisional da Polícia Judiciária (PJ) do Porto e em Custóias para melhorar a saúde física e mental dos reclusos, cujos fatores de risco são agravados quando admitidos.
Firmino Machado, médico de saúde pública e investigador do ISPUP, afirmou que o projeto visa “disponibilizar gratuitamente a todos os reclusos em meio prisional convencional um programa de atividade física”.
“Estes indivíduos quando são admitidos nos estabelecimentos prisionais, de si já têm um conjunto de fatores de risco que são desfavoráveis. Estes fatores são ainda agravados quando o utente é admitido em meio prisional, desde logo porque fica mais sedentário, mas também porque inicia ou agrava comportamentos de risco, nomeadamente, consumo de tabaco, álcool e drogas”, observou.
Desenvolvido e delineado em colaboração com a Organização Mundial de Saúde (OMS) e com a Federação Portuguesa de Futebol (FPF), o projeto vai ser implementando no estabelecimento prisional da Polícia Judiciaria (PJ) do Porto, que tem entre 30 a 40 reclusos, e no estabelecimento prisional de Custóias, que conta com cerca de 1.000 reclusos.
Por considerarem que a passagem do recluso no estabelecimento prisional deve ser vista “como uma oportunidade de mudança favorável desses determinantes”, os investigadores vão implementar um programa de atividade física para modificar os fatores cardiovasculares (peso, gordura no sangue, pressão arterial e aumento do fitness).
Uma das atividades propostas é a “prática de futebol sem correr”, modalidade promovida pela FIFA e realizada com materiais de baixo custo, em contexto comunitário e recintos que não são convencionais de prática de futebol.
“O que estamos a propor é uma intervenção com a qual os portugueses, em particular do sexo masculino, têm uma afetividade emocional que é a prática de futebol”, afirmou.
O intuito do programa é também melhorar a saúde mental dos reclusos, reduzindo os valores de ansiedade e depressão reportados, e aumentando a qualidade de vida.
“Vemos esta estratégia de particular relevância, essencialmente numa altura em que, fruto da Covid-19, existem frequentemente várias restrições e várias necessidades de confinar ainda mais um indivíduo que de si já estava confinado e com a liberdade restringida”, disse Firmino Machado, acrescentando que a passagem pelos estabelecimentos prisionais pode ser encarada de “forma favorável no curso de vida do indivíduo”.
O projeto vai ter a duração de dois anos, sendo que durante o primeiro ano vai ser implementada a intervenção – atividade física em grupo supervisionada por um professor – e no segundo ano vai ser avaliado o “destreino”.
“O que pretendemos é que esta prática tenha um efeito a longo tempo e que compreendendo o benefício que traz a prática de atividade física, o recluso incorpore isso nos seus hábitos e quotidiano”, disse o médico.
Firmino Machado adiantou que se o projeto se mostrar “efetivo”, a intenção dos investigadores será alargá-lo a outros estabelecimentos prisionais e até ao contexto de reclusas.