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Álvaro Siza diz que arquitetura enfrenta um momento difícil ao ter-se tornado num luxo caro

19 Julho 2021
Álvaro Siza diz que arquitetura enfrenta um momento difícil ao ter-se tornado num luxo caro
Cultura
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A arquitetura atravessa um tempo difícil ao ter-se tornado um luxo caro, destacou o arquiteto português Álvaro Siza num vídeo exibido na abertura da última semana do 27.º Congresso Mundial de Arquitetos (UIA2021RIO), celebrado virtualmente a partir do Rio de Janeiro, no Brasil.
“A arquitetura atravessa um tempo difícil, sujeita, entre outros, a um equívoco que pressinto bastante generalizado: ser a arquitetura um luxo caro”, disse o arquiteto, que é o único português laureado com a Medalha de Ouro da UIA.
“A arquitetura não é um luxo, é um serviço que não se satisfaz para além do que lhe compete por formação com menos do que a beleza. É também uma forma de combate à desigualdade. Só pelo diálogo, pelo debate se pode desmontar este e outros equívocos”, acrescentou Álvaro Siza.
Antes de encerrar a sua breve intervenção no evento num vídeo de dois minutos, Álvaro Siza frisou que não poderia despedir-se “sem recordar comovidamente o grande amigo e grande arquiteto Paulo Mendes da Rocha”.
Paulo Mendes da Rocha, falecido em maio passado, foi um dos arquitetos brasileiros mais premiados de sempre, era sócio honorário da Casa da Arquitetura de Matosinhos, instituição a que doou a totalidade do seu espólio.
Em Portugal, Paulo Mendes da Rocha assinou o projeto do Museu Nacional dos Coches, em Lisboa.
Na sequência da abertura do congresso, em que também falaram organizadores, autoridades e representantes de conselhos de arquitetos do Brasil, aconteceu o debate “Diálogo Brasil Portugal”, que prestou homenagem a Paulo Mendes da Rocha e do qual participaram os arquitetos portugueses Nuno Sampaio, Eduardo Souto de Moura e a arquiteta brasileira Carla Juaçaba.
Ao iniciar o seu discurso, Carla Juaçaba lembrou frases de Paulo Mendes da Rocha para explicar a sua visão sobre o momento atual da arquitetura, lembrando que ele defendia a coexistência entre a construção humana e a natureza.
“Paulo Mendes da Rocha tinha frases muito fortes sobre a relação do homem com a natureza e com a cidade. As frases respondem tão bem [a este momento] como os projetos dele. Como este último, que é uma fantasia, que ninguém encomendou, para a Praça da República (…). Ele desenhou uma infraestrutura urbana com lazer e realmente desenhou o homem e a paisagem”, explicou.
“É o desenho de uma paisagem manufaturada, construída, que é o que temos que fazer agora, um desenho sobre o coexistir do homem com a natureza, o homem e a paisagem, o homem e a cidade”, acrescentou a arquiteta brasileira, citando o projeto de Paulo Mendes da Rocha que sugere transformar a Praça da República, no centro de São Paulo, a maior cidade do Brasil, numa enorme piscina pública ou no que alguns chamaram de praia urbana.
Já Eduardo Souto de Moura salientou ter uma visão otimista sobre o papel dos arquitetos neste mundo em transformação, já que as dificuldades desafiam os criadores a buscar novas possibilidades para planear as suas intervenções na cidade e também novas ferramentas.
“Temos que ter consciência das dificuldades, cada vez maiores. Cada vez mais a arquitetura tem oposições, tem obstáculo, mas temos que arranjar uma maneira de contornar e sair deles”, defendeu Souto de Moura.
“Eu comparo a situação do arquiteto, do cliente com o círculo do sumo [luta tradicional japonesa] em que ganha quem conseguir por o adversário fora do círculo, ou anular o adversário (…). Com esta analogia quero dizer que no fundo não é a violência, a força que definem as situações, mas exatamente a estratégia que escolhemos para desviar de maneira que o próprio adversário saia do jogo”, acrescentou o arquiteto português vencedor do Prémio Pritzker Eduardo Souto de Moura.