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Movimentos cívicos culpam Estado português por destruir Barroso com Galp em exploração de lítio

16 Janeiro 2021
Movimentos cívicos culpam Estado português por destruir Barroso com Galp em exploração de lítio
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Movimentos cívicos acusaram o Estado de deixar de ser “apenas cúmplice” para ser “culpado da destruição de território” com a aquisição da Galp de 10% do projeto de exploração de lítio da Mina do Barroso, em Boticas.
“Com o anúncio da compra, o Estado Português (detentor de 7,5% do capital da Galp) deixa de ser apenas cúmplice e passa a assumir-se como culpado da destruição de território que é Património Agrícola Mundial e onde está localizada a proposta ‘Mina do Barroso’”, realçaram, em comunicado, onze associações e de movimentos cívicos contra vários projetos de mineração em Portugal.
A Galp vai adquirir 10% do projeto de exploração de lítio da Mina do Barroso, em Boticas, distrito de Vila Real, por 6,4 milhões de dólares (5,26 milhões de euros), segundo um acordo assinado com a Savannah Resources agora divulgado.
Em comunicado, a empresa mineira britânica referia que o valor investido “vai ser usado para dar continuidade aos trabalhos com vista ao estudo definitivo de viabilidade [‘Definitive Feasibility Study (“DFS”)’] do projeto, após as devidas autorizações e a conclusão dos acordos definitivos com vista à parceria”.
A entrada indireta do Estado no negócio é criticada agora pelas associações Unidos em Defesa de Covas do Barroso, Montalegre Com Vida, Corema – Associação de Defesa do Património | Movimento de Defesa do Ambiente e Património do Alto Minho, Em Defesa da Serra da Peneda e do Soajo, Guardiões da Serra da Estrela, Movimento Não às Minas – Montalegre, Contra Mineração Beira Serra, SOS Serra d’Arga, SOS – Serra da Cabreira – BASTÕES ao ALTO!!, PNB – Povo e Natureza do Barroso e SOS Terras do Cávado.
Estas associações e movimentos salientam que a compra confirma “todas as suas piores suspeitas desde o início do chamado ‘Programa Nacional do Lítio’”.
“[O Programa Nacional do Lítio] visa promover a mineração em larga escala no nosso país e a qual o senhor Ministro do Ambiente procura justificar com a transição energética e com uma cadeia de valor que, facto cada vez mais claro, não ficará em Portugal”, apontam.
E lembram que “este acordo ‘Galp-Estado-Savannah’” surge “ainda antes do Estudo de Impacte Ambiental ser publicado para consulta pública, o que levanta questões relativamente ao valor que a Galp, e por extensão o Governo, põem na imparcialidade da avaliação a que está sujeito”.
Para os grupos, este processo é “mais uma demonstração da falta de transparência que tem sido a principal característica do ‘modus operandi’ deste Governo, pela mão do Ministério do Ambiente e Transição Energética”.
As associações “repudiam veementemente esta forma de atuação, que prejudica claramente o conceito de Estado enquanto ‘uma pessoa de bem’, pelo que exigirão o necessário e devido esclarecimento deste processo, até às últimas consequências”.
“Enfrentamos a situação ‘orwelliana’ e inaceitável de termos o Ministério do Ambiente não só a promover a mineração a céu aberto, mas também a participar ativamente no que se antecipa ser a destruição de largas áreas do nosso território, recorrendo a estratégias que comprometem a sustentabilidade a longo prazo, atropelando o direito das populações de serem ouvidas em todo o processo e pondo em causa o futuro”, destacam.
O comunicado refere “a imprudência e ingenuidade de algumas autarquias do interior atrás do brilho que parece reluzir na promessa de uma refinaria, demonstrando a sua vulnerabilidade perante um Governo que parece prestes a sacrificá-las”.
“A autarquia de Matosinhos, que tão bem conhece os impactes de uma refinaria de petróleo, veio rejeitar a possibilidade de vir a ter uma de lítio dizendo que não está disposta a salvaguardar os postos de trabalho perdidos a qualquer preço. Logo de seguida, vêm os autarcas de Ribeira de Pena e Vila Pouca de Aguiar disponibilizar o seu território para acolher a dita refinaria, como já havia anteriormente feito o presidente da Câmara de Montalegre sem conhecer as praticabilidades quanto mais os riscos que dela poderiam advir”, sustentam as Associações e Movimentos.
Em maio de 2017, a Savannah Resources adquiriu a Slipstream Resources Portugal, onde se incluem as concessões de lítio da empresa em Portugal, para desenvolver o projeto mineiro na região do Barroso, no concelho de Boticas, detendo a Mina do Barroso a 100% desde junho de 2019.
Com um investimento total estimado na ordem dos 110 milhões de euros e a criação prevista de 215 empregos diretos e 500/600 indiretos, o projeto de exploração de lítio em Boticas aguarda ainda decisão quanto à avaliação de impacte ambiental, mas tem vindo a ser contestado pela população local que criou a Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso (UDCB) para lutar contra a mina.
O Ministério do Ambiente e da Transição Energética ainda não se pronunciou sobre o assunto.