Um grupo de pelo menos 25 portugueses, além de passageiros de outras nacionalidades, estão desde quarta feira retidos em Moçambique, depois do cancelamento de um voo com destino a Portugal e sem soluções imediatas à vista.
Devido ao novo coronavírus, um voo das Linhas Áreas de Angola (TAAG) de Maputo para o Porto, com escala em Luanda, foi cancelado, sem que a companhia tenha dado alternativas para Portugal, disse o português, José Fonseca, de Vila do Conde.
Nem a companhia, nem seguros de viagem estão a assumir os custos de prolongamento da estadia em Maputo, alegando o caráter excecional da pandemia provocada pelo novo coronavírus.
A única companhia que ainda faz a ligação entre Lisboa e Maputo é a portuguesa TAP, mas é difícil encontrar lugar e os que há têm preços proibitivos, lamentou José Fonseca, que precisaria de cinco bilhetes, para ele, a mulher e três filhos.
O grupo continua a encetar contactos com as companhias aéreas, em busca de soluções, mas apelou às autoridades portuguesas.
“Estamos a apelar a todas as companhias aéreas ou até mesmo ao Governo português para nos ajudar a sair daqui”, afirmou José Fonseca.
Não se trata só de uma questão do “prejuízo que se está a acumular” para a família, mas também de temor face à ameaça de a pandemia atingir o país.
“Quando chegar [a Moçambique], não vai ser uma situação fácil. Não temos uma situação de saúde que me possa agradar”, referiu o português de Vila do Conde.
Aveline Santos, de 31 anos, trabalhou durante 24 dias no norte de Moçambique numa parceira entre a Universidade de Aveiro e a Universidade Católica de Moçambique e agora vive momentos de incerteza.
“É das poucas vezes que usei a palavra, mas ontem fiquei mesmo em pânico. Hoje já chorei muito. Só queria fechar os olhos e que tudo acabasse”, descreveu.
Apesar de ter recebido indicação de que talvez possa reservar lugar num voo da TAP, no sábado, tem recebido também informações contraditórias: há passageiros que referem que o avião “já está cheio”, outros dizem que “já não haverá” ligação.
Tudo somado, ficar retida em Maputo “é uma questão de saúde, de segurança, de stress, mas também financeira”: “a minha missão terminou, o seguro de vigem não se responsabiliza, por esta ser uma situação excecional e a TAAG também”.
“Precisamos mesmo de ajuda, que Portugal possa olhar e pensar que existem aqui muitos como nós, em situação difícil e alguns em situações até precárias”, acrescentou.
Hugo Silvestre está com a família alargada numa visita ocasional a Moçambique que ameaça tornar-se num problema.
“Temos reservas [financeiras] para alguns dias com qualidade, mas se a solução só surgir daqui a duas a três semanas, vamos ter algum momento difícil e isso preocupa-nos”, contou.
“O que pedimos ao Estado português é que nos tratem da mesma forma que trataram cidadãos que estavam na China e Marrocos, que nos consigam vir buscar”, concluiu.
Frederico Silva, cônsul-geral de Portugal em Maputo, disse que além dos passageiros que deviam seguir no voo da TAAG de quarta feira, há outros já sinalizados no total de nove países sob a sua alçada.
O total é um número ainda “indeterminado” de pessoas maioritariamente deslocadas em turismo ou negócios e que “face aos novos contextos têm dificuldade em regressar ao país”.
Segundo referiu, está a ser feito “o máximo que é possível fazer para encontrar soluções caso a caso”, admitindo tratar-se de uma tarefa “colossal”.
Há “necessidades ainda indeterminadas”, mas o objetivo é que todos possam regressar a Portugal “o mais cedo possível”, assegurou.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, decretou esta quarta feira o Estado de Emergência em Portugal, por 15 dias, devido à pandemia de Covid-19.
O anúncio foi feito por Marcelo Rebelo de Sousa numa comunicação ao país, a partir do Palácio de Belém, em Lisboa, depois de ouvido o Conselho de Estado, ter obtido o parecer positivo do Governo e a aprovação do decreto pela Assembleia da República.
O Estado de Emergência proposto pelo Presidente para conter a pandemia ao Covid-19, em vigor desde as 00:00 de 19 de março, prolongando-se até às 23:59 de 02 de abril, segundo decreto publicado quarta feira em Diário da República, prevê a possibilidade de confinamento obrigatório compulsivo dos cidadãos em casa e restrições à circulação na via pública, a não ser que tenham justificação.